VICTOR LOUREIRO

Brasília - DF

Anjo de Prata desde 23 de Agosto de 2004

MEDO - 149:

Pode piorar

VIAGEM - 147:

Crônica de aeroporto

EXPECTATIVAS - 143:

Expectavida

DISTÂNCIA ENORME - 140:

Longe

PEDIDO - 135:

Pizza

ÚLTIMO ENCONTRO - 134:

Última vez

ESTRANHA SAUDADE - 131:

Estranhas saudades

TALENTO E SORTE - 129:

Amado

HORAS PARADAS - 127:

O velho e o relógio

MANIA - 126:

Manias

FERIDA ABERTA - 124:

Alianças

INTIMIDADE - 121:

As pequenas coisas

CONFISSÃO - 119:

Confessionário

NO ESCURO - 118:
O segredo

VERDE - 117:

Não serve azul?

MULHER - 116:

Lição prática para os homens II

ETERNIDADE - 115:
O bilhete
DE CORPO E COPOS - 114:
Falando no assunto...
FATALIDADE - 113:
Ás portas do céu
TEMA LIVRE - 112:
Coisas que você pode...
ANISTIA - 111:
Exílio
ARMADILHA - 110:
Notícia na tevê
SEM MISTIFICAÇÃO - 109:
Versões
DEPOIS DO AMOR - 108:
Depois do amor
CRISE - 107:
Crise de crises
SILÊNCIO - 106:
O grito
INÚTIL - 105:
Todas as maneiras de se ver as coisas
ESTILHAÇOS - 104:
Três Marias
BOCA DE MULHER - 103:
Caras bocas

Biografia: Quando eu era criança, contava estrelas. Noite após noite, ia até a janela e começava a contá-las, sem saber que eram as mesmas toda vez. Com a honesta artimanha de esquecer a contagem anterior e inventar uma nova, cheguei ao impressionante número de alguns bilhões – e tinha orgulho daquilo, não sabia que entenderia, um dia, que seria feliz quando enxergasse apenas uma delas. Tenho uma mãe, um pai, duas irmãs dali, três daqui, um padrasto, uma madrasta, uma ex-madrasta, além de avós e incontáveis tios, primos e agregados. E tenho uma futura esposa, mãe de futuros filhos, numa futura casa, com futuros móveis e, talvez, futuros animais de estimação. Minha pressão é doze por oito, tenho vinte e oito dentes desde que arranquei dois sisos e milhões de fios de cabelos. No meu armário há um terno, duas gravatas, cinco cintos, seis calças, oito pares de sapatos, dezenas de camisas. A propósito, eu visto quarenta e dois, calço quarenta-quarenta-e-um e minha bola de boliche é doze ou treze – não custa avisar. Conheço dois países, o meu e outro, e, incomodamente, conheço sete estados no outro e apenas quatro no meu. Em ambos os casos, sem contar os en passant. Falo fluentemente duas línguas e uma mais ou menos inventada, e falo meia dúzia de palavras em meia dúzia de outros idiomas. Sei de cor telefones que já não existem, mas não sei minha altura, peso ou a placa do meu carro. Criei meu próprio negócio, com dois sócios. Na minha conta no banco há alguns reais rendendo uma semi-irrisória porcentagem mensal – aliás, tenho três gerentes cuidando dos meus interesses no banco. Conto nos dedos as vezes em que joguei na loteria, e não preciso de nenhum para contar em quantas eu ganhei alguma coisa. (Se serve de consolo, uma vez, numa raspadinha, ganhei outra, na qual não ganhei nada.) Há cartões demais na minha carteira e carrego o talão de cheques inteiro. Minha coleção de embalagens especiais possui vinte e seus itens. Tenho muitas canetas, muitas mesmo, mas elas somem. Pretendo um dia ter mil discos, mil filmes e mil livros. Só não sei ainda de quantas estantes vou precisar para fazer caberem todos eles. Prefiro ímpares. Prefiro ser ímpar. Prefiro as últimas horas do dia e as primeiras do dia seguinte. Prefiro hoje a ontem; prefiro amanhã a depois de amanhã. Prefiro dois mil e nove a dois mil e onze. E se dizem que a vida começa aos quarenta, a minha começou aos vinte e quatro. Do primeiro tempo.