Tema 014 - FOLHA
BIOGRAFIA
FOLHAS SOLTAS
Larissa Schons
1. Folha um - Quer escapar, quer escapar, o cachorrão vai te ensinar!

Orra, meu! Pega a folha e escreve ae: "Mano o negócio é o seguinte. Quando cê descê, no portão lateral vai tá uma perua te esperando. Calllma! Naum é o que cê tá pensando. É um veículo tipo uma kombi. Preta. Com uma mina. A Sarita. Ela vai tá lá te esperando. Dae cês vem pra cá que nois embarca no primeiro avião. Falô, mano!? Mas vê se disfarça que naum foi todos us cara que conseguimos dominar. Um tapinha, MC Cachorrão."

 

2. Folha dois - Classificados: Folha de São Paulo - quarta-feira de cinzas, pós-carnaval.

Para Gustavo Kuerten - Guga, meu nome é Tereza Bombom, sou natural de São Paulo, tenho 21 anos, sou sua fã número 1, eu faço mil loucuras por você!!! Sei que você merece, você é meu campeão, meu número 1, forever, together. Já fiz de tudo pra te encontrar. Fui pra Floripa, andei pela Joaquina pra ver se te via surfando e nada. Assisti um jogo de futebol do seu time, você é torcedor do Avaí, eu sei disso, não te falei que sou sua fã número 1? Até o hino do seu time eu decorei, sei tudo, comprei uma camiseta azul do leão da ilha, só pra te agradar. Tem mais, tem muito mais. Guardo no meu quarto, alías durmo com elas, seis pares de sandálias do rider do Guga. Quando olho pro rider e vejo as suas assinaturas, me emociono, fico excitada, fico completamente louca. A minha maior alegria foi ver de pertinho a homenagem que a escola Protegidos da Princesa fez pra você neste Carnaval. Pena que você não apareceu. Fiquei arrasada! Me preparei toda pra esse grande momento. Meu desespero é tanto que estou recorrendo aos classificados da Folha. Tenho esperança que você leia esse texto e me procure. Meu telefone: 0xx11233xxxx. Beijos de sua neguinha Terê.

 

3. Folha três - Ecologicamente correto

Eu sou um cara ecologicamente correto. Tenho orgulho disso. E valorizo as pessoas que assim como eu, sabem dar valor ao que é mais primário entre os seres. Não fumo, não bebo nada enlatado, não como nada enlatado, congelado, plastificado. Sou radical, quer dizer, sou natural! Preservo a natureza como ninguém. Não conheço esses orgãos internacionais como Greenpeace, alías o que é isso? E não preciso de um Ibama nacional, faço a minha parte sozinho. Trato com amor, folhas, árvores, plantas, animais. Sou cacique, sou índio, sou filho da terra.

 

4. Folha quatro - Folha e Giz

Dois cariocas. Ela chamava-o de Folha. Apelido de infância. Quando ele ainda não tinha desenvolvido todos aqueles músculos. Ele chamava-a de Giz. Apelido óbvio, o nome dela é Gizele. Além disso é branca, branca como um giz. Ex-namorados. Nunca mais tinham se visto.

No ponto de ônibus se esbarram.

- Folhaaaaaaaaaaaa! É você, Folha

- Gizzzzzzzzzzzzzzz. Claro que sou eu. Que bom te ver. Quanto tempo. Ah! Estou tão felizzzzzzzz.

- Folha que barato! Como você está forte! Nem parece mais aquela minha folhinha fininha.

- Pois é. Agora sou profissional trainner. Tomei gosto pela coisa.

- Não me diga! Quer dizer que dá aula para aquelas madames... dá pra alguma artista?

- Dou o que? Você não mudou né Gizzzzzz. Sempre com esse joguinho de duplo sentido.

- Ah! Faz favor. Você que não mudou. Sempre com esse pensamento sujo.

- Pronto! Começou, agora a culpa é minha? Você insinua e a culpa é minha? Mulheres!

- Caraca você continua o mesmo safado e machista. Você é um folha vazia! Uma folha de papel em branco sem utilidade, aliás só tem uma, ir pro lixo, tá sabendo?

- Gizzzzzzzzzzzzz sua piranha!

Os dois se atracam em plena rua. O ônibus passa, não consegue frear. Uma folha e um giz estirados no chão, amassados e sem vida.

 

5. Folha cinco - Carta de amor

Meu amor,não repare nessas mal traçadas linhas. Na verdade só escrevi porque estou morrendo de saudades de você. Não tenho o talento e a sabedoria de um Carlos Drummond de Andrade ou um Vinicius de Moraes, mas sou um cara sensível, pô. E além disso, TE AMO! Não é o bastante para que essa simples folha de papel ganhe um brilho especial? Te amo, te amo, te amo... sei lá assim apaixonado me sinto até um pouco mais... poeta!

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