Tema 018 - PENSAMENTOS IMPERFEITOS
BIOGRAFIA
COMO ESTARÁ HELENA?
Maurício Cintrão

As histórias de amor que não tiveram final são as mais tristes. Lembro disso quando encontro um velho colega nas esquinas da profissão. São raros esses encontros. Mas os poucos que acontecem me dão a sensação de que seus olhos ainda repetem a mesma pergunta:

- Como estará Helena?

Quem conheceu o repórter brincalhão sabe do que eu estou falando.

Hoje, perto do que era, é um homem desconsolado, feito viúvo sem enterro. Talvez por isso, pela falta da palavra final,  do réquiem das paixões, Helena nunca tenha morrido para ele. E, de fato, não morreu para ninguém. Ela simplesmente desapareceu. Helena deve estar segura e serena em alguma capital do mundo, amando seus filhos, tocando seu trabalho e, quem sabe, lembrando dele aqui ou ali.

Há anos, os dois tiveram uma briga. Ficaram alguns dias sem se falar, ela viajou para o Exterior a trabalho e nunca mais deu sinal de vida. Foi uma tragédia sem precedentes para ele. Afinal, ela mudara seu Norte. Perdeu completamente o rumo quando a conheceu. Mudou, entregou-se, ficou apaixonado. Helena passou a fazer parte dele.

Nas semanas que se seguiram à viagem dela, ele ainda não havia percebido que a separação seria para sempre. Esperou quieto, obediente. Mas depois de um mês sem notícias, foi murchando. Amigos comuns foram procurados mas também não sabiam (ou não quiseram) informar sobre ela. E o alegre escriba encalhou.

Conhecidos nossos contam que o encontraram diversas vezes no bar em que a conheceu. Virou plantonista da noite. Religiosamente, navegou no whisky durante meses, na mesma mesa, no mesmo bar. Até que assumiu como irreversível sua tragédia pessoal. Hoje,  é um homem que transporta um buraco para lugar nenhum.

Nos eventuais cruzares de caminhos, pouco avançamos além da meia dúzia das palavras amenas dos encontros sociais. Ele e eu estamos sempre apressados. Trocamos cartões, nos prometemos telefonemas e chopps, reafirmamos a dívida dos encontros que falharam "vê lá, heim, dessa vez tem que dar", mas falhamos novamente.

Talvez nunca consiga falar com ele a respeito. Só de pensar no assunto me sinto impertinente. Vazios como aquele são pessoais, intransferíveis. Escarafunchar o vazio dos outros é uma impertinência sem tamanho.

O problema é que o pedido de resposta está lá, nos olhos dele. Lá no fundo há um farol que sinaliza navios sobre os riscos dos recifes e a direção do porto mais próximo. Só não chega a esperada embarcação. Essa, nunca mais vai voltar do mar.

Por falar nisso, vocês têm alguma notícia de Helena?

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