Tema 027 - LAVOU, TÁ NOVO
BIOGRAFIA
INTIMÍSSIMA
Viviane Alberto
Há um livro sobre o amor nos tempos da cólera. Num nível um pouco mais frívolo, alguém precisa escrever seu contemporâneo: o amor nos tempos de Caras.

Não vou falar mal de revistas que se dedicam à vida dos artistas. E não falo mal porque eu também as leio, assumidamente. Nem uma, nem duas, leio várias. Curiosidade, ambição saudável, mil coisas.

Muito mais do que suas páginas de fotos bonitas e papel agradável, uma outra coisa me chama a atenção: o modo como os famosos amam.

Mas pouquíssimas sashas, digo, pessoas, nascem famosas. A maioria nasce simples e anônima, como eu e outros milhões de brasileiros, talvez você. E, você sabe, a gente ama daquele jeitinho que todo mundo conhece. Dá uma olhadinha hoje, um outro olhar mais lânguido amanhã. Bate um papo, encontra umas afinidades e você sabe bem como é que é. A gente faz de tudo pra dar certo. Pra durar, pra ser infinito. O tempo que vai durar, ninguém sabe. Mas a gente se esmera! E cuida e mima, protege. Idealiza até a última possibilidade. Fica louco da vida se as pessoas começam a dar palpites, fazer comentários. Quando se metem na sua vida, você quer morrer, quer matar, quer sumir com a criatura! É sua vida e o que acontece nela, só a você diz respeito. É ou não é? É.

Mas têm os outros, aqueles das fotos, as pessoas públicas. O que é público não é privado, se é que aprendi direito. Se é público é de todo mundo, como os orelhões. Ta lá, pode olhar. Pode ver o primeiro encontro deles. O décimo segundo. A aliança de noivado. O beijo, o bolo de casamento. Tem até o nome do buffet, caso você queira uma festa igual (mas atenção, você,anônimo, paga pela festa. O famoso, não. Propaganda). Você vai junto na lua de mel. E, depois, acompanha o litigioso divórcio.

Claro que notamos cada detalhe. A decoração das casas, as roupas, os cabelos. Você vê algo de ruim nisso? Eu, não. Se está lá é porque tem gente como eu que gosta de olhar e gente como eles, que gosta de mostrar.Só que me peguei pensando nessa ordem em que as coisas acontecem. Pra gente, já é tão normal acompanhar o desenrolar da vida dessas pessoas. E, hoje, quando a gente vê uma separação até comenta: demorou...

Como se uma separação fosse menos dolorosa porque foi fotografada. Como se voar em seguida para Paris fizesse doer menos. Como se filhos em escolas caríssimas não se sentissem como em uma esfera de oxigênio.

Sei lá... eu sei exatamente que produtos cada um deles usa e com que roupa eles gostam de ir dormir. Sei até com quem. Mesmo que essa preferência mude toda semana. E que o da semana anterior fique sabendo da novidade junto comigo. Gente famosa é assim, lavou tá novo.

O que eu não sei é como eles suportam as lentes (as mesmas que produzem as fotos que eu gosto de ver) o tempo todo. As mesmas lentes que flagraram a celulite da princesa, e depois, tantas vezes, registraram quando o príncipe a fazia chorar. Lentes que estavam atrás dela, quando ela morreu.

Tudo porque eu queria saber. Porque alguém queria mostrar. Mas eu não devo me culpar. Afinal, não sou eu que alimento sozinha o mercado da auto-promoção, do marketing pessoal. Não, eu não devo me culpar. Ou devo?

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