Tema 029 - NO MEIO DA ALEGRIA
BIOGRAFIA
NÃO TÔ ENTENDENDO
Viviane Alberto
As fábulas e contos infantis sempre têm uma lição de moral no final. Deve ser algum problema meu, mas dificilmente eu acho essa lição. Sou daquele tipo que depois que acaba a história da Cinderella pergunta: mas e a abóbora, o que fizeram com a abóbora?

Mas me contaram uma parábola esses dias que, essa sim, me deu o que pensar. Gosto de parábolas porque normalmente envolvem gente e bichos. Todo mundo já ouviu pelo menos uma com raposas, cigarras e formigas. Essa era sobre um urso, um homem e duas onças. E um morango, que ainda não tinha entrado em histórias.

Não me pergunte como, no mundo maravilhoso do imaginário popular, o homem acabou pendurado em um barranco, agarrado às raízes de uma árvore, enquanto um urso o vigiava na parte de cima do barranco, ambicionando devorar sua cabeça. Duas onças o aguardavam na parte de baixo, doidas pra comer o que sobrasse. Saído do nada, um morango maravilhoso, doce e apetitoso, surgiu ao lado do homem, que se esticou todo, chegando a ficar preso apenas por uma mão, já que a outra estava se esmerando em apanhar a iguaria e leva-la até sua boca. E ele comeu o morango em estado de êxtase, antes de ser deglutido pelos animais famintos. Moral da história: coma o morango e o resto... o resto pode esperar.

Eu gostei da historinha boba, porque sou ainda mais boba do que ela. Problemas, quem não tem? Mas quem dimensiona o espaço que eles ocupam na vida é você. E eu tenho o péssimo hábito de dar espaço demais pra esse tipo de coisa, mesmo pros probleminhas do dia-a-dia. Depois de tantas voltas que o mundo dá, claro que já aprendi algumas coisas e não perco todo humor por causa do trânsito ou o atraso de uma entrega. Mas sou do tipo que quer que o universo pare quando tenho um problema maior. Daquelas que não entendem como os pássaros podem cantar quando eu vejo tudo tão negro. Acabou que, a duras penas, fui percebendo que os pássaros não dão a mínima se eu estou ouvindo seu canto ou não. O sol passa pelos pontos cardeais como se nada estivesse acontecendo, mesmo que eu passe uma semana sem abrir as cortinas. Enfim, a vida continua, por mais que eu não esteja entendendo nada...

Difícil admitir que às vezes, a gente acaba se podando bem fora de época, se impedindo de crescer. Azar o nosso, que ficamos pensando na conta de telefone, por exemplo, bem no melhor do bate-papo, no meio da alegria. Certo, eu sei que ela não vai se pagar sozinha. Mas você sempre pode escolher o melhor horário, fazer umas horas extras, vender umas rifas... Estar bem consigo mesmo, querer bem aos outros, isso não dá tanto trabalho e é de graça. Pra chegar perto da gente, as felicidades, as grandes e as simples, só precisam que a gente dê espaço. Quando percebemos isso, várias portas se abrem. E, às vezes, é aí que descobrimos onde está a abóbora.

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