Tema 031 - DISFARCE
BIOGRAFIA
TRAIÇÃO
Tarciso Oliveira
Denise dormira muito mal naquela noite. Pela manhã ainda estava pensativa e desconfiada. Tentava se convencer que não poderia ser verdade o que sua irmã lhe dissera no dia anterior. Afinal, estava casada com o Renato há cinco anos. Ele não poderia estar lhe traindo assim, sem mais nem menos, sem motivos. Ela não aceitava tal pensamento, mas uma tênue ponta de desconfiança massacrava suas idéias. Decidiu, então, conversar mais um pouco com sua irmã, a autora da informação que a atormentava tanto.

- Rosa? Eu estava pensando – diz Denise ao telefone – em nossa conversa de ontem e...

- Olha, Denise, se você não acredita, por que você não segue o Renato e ver com os seus próprios olhos?

A frase dita por Rosa feria-lhe a alma. Seu dia estava acabado. Contudo, por mais que ela não aceitasse a idéia da traição, somente seguindo a risca o que sua irmã falara é que teria a certeza absoluta da conduta do marido. Só faltavam três dias para o seu aniversário, e isso fazia com que ela sofresse mais ainda. E dizia para si:

- Que presente de aniversário! Um par de chifres! Será que eu mereço isso?

Revoltada, então, pede a ajuda da irmã para descobrir, de uma vez por todas, se o Renato está sendo um marido infiel.

- Claro, querida – concordou Rosa. – Juntas iremos desmascarar o safado do seu marido!

A afirmação de Rosa lhe causou uma dor incomensurável. Ela, intimamente, era impulsionada a brigar com a irmã, mas continha-se, sabia que se o Renato fosse o cafajeste que tudo aparentava, terminaria perdendo a amizade da sua irmã tão querida. E aceitava os piores adjetivos que sua irmã dirigia ao seu marido.

- À tarde – continuou Rosa – eu passarei na sua casa para bolarmos um plano. Tá legal?

Denise concordou. Desligou o telefone e deitou-se no sofá. Ligou a televisão, porém não conseguia processar qualquer informação, estava absorta demais para tal.

Rosa chegou lá pelas duas da tarde, e encontrou uma Denise melancólica e chorosa. Parecia que seu mundo ruíra em mil pedaços.

- Ânimo, minha irmã! Não se deixe abater. Homem é tudo igual. Todos são safados.

- É fácil quando se está de fora, Rosa...

- Tudo bem. Você tem razão. Mas vamos ao que interessa. Eu tive uma ótima idéia!

Rosa expõe sua idéia para Denise, que concorda de imediato. Ela deveria seguir o marido quando este deixasse o trabalho. Para isso, usaria um disfarce já idealizado por sua irmã. Rosa trouxera uma peruca loira e algumas roupas bastante diferentes das que a irmã costumava usar. Decidiram que a investigação começaria no dia seguinte. Rosa tomara a iniciativa de alugar um carro para que Denise não corresse o risco de ser reconhecida pelo Renato caso ela usasse o seu.

Uma loira, de óculos escuros e roupas extravagantes é vista dentro de um Golf azul estacionado do outro lado da rua em frente ao escritório de Renato. Ninguém desconfiaria tratar-se de Denise. O marido sai com o carro, ela o persegue. De repente, Renato entra em uma rua, saindo completamente do seu percurso diário. Denise está em seu encalço. Ele pára em frete a um prédio e desce. Ela reluta, por algum tempo, em sair de dentro do veículo. Quando resolve sair, ver que o marido já está de volta ao carro. Ele ficara no prédio aproximadamente uns dez, quinze minutos. Em dez minutos ninguém trai. Assim pensou. Renato voltou ao percurso habitual e seguiu para a sua casa. Denise ligou para Rosa, encontrou-se com ela num restaurante das proximidades onde trocaram de veículo e retiraram o seu disfarce.

De volta a sua casa, Denise controlou-se, o máximo que pode, para não cair no choro. Inventou um mal-estar para evitar conversar com o marido e foi para a cama. Tomou um calmante e dormiu.

Quando Denise acordou, Renato já havia saído para o trabalho. Ela ficou horrorizada. Renato, simplesmente, não se lembrou do seu aniversário. Como poderia fazer tal coisa? Denise, indignada, ligou para Rosa em busca de apoio, esta veio imediatamente ao seu encontro.

- Eu não lhe disse, minha irmã!

- Até hoje, Rosa – soluçou Denise –, eu não queria acreditar nas suas desconfianças, mas, depois do que aconteceu, não tenho mais dúvidas.

- Ainda bem que você abriu os olhos!

- Eu quero flagrar os dois, Rosa. Eu quero muito isso.

- Ontem você poderia ter feito isso. Mas você teve medo...

No mesmo lado da rua, em frente ao mesmo prédio, na mesma hora estava a mesma loira a espera de Renato. A aquele desvio no caminho parecia que já fazia parte do seu percurso. Denise prometera para si mesma que não aguardaria um só segundo, entraria em ação assim que Renato descesse do carro. E foi o que fez. Atravessou a rua, encaminhou-se à portaria do prédio: era um pequeno hotel. Denise conversou com o recepcionista, disse-lhe que era secretária de Renato e que lhe trazia papéis importantes solicitados por ele próprio. O recepcionista ingenuamente engoliu sua conversa, e ainda deu-lhe o número do apartamento que Renato se encontrava.

Denise sentia tremores nas pernas, as mãos suavam e a voz parecia sumir. Estava em frente à porta do apartamento que Renato estava. Não teve coragem de bater na porta. Resolveu voltar ao elevador e ir para a sua casa. Pediria a separação ao marido, mas não passaria por aquela humilhação. Antes de entrar no elevador, liga para a sua irmã, conta-lhe sua decisão e lhe diz que está em frente à porta do apartamento em que se encontra o marido traidor.

- Não senhora! De modo algum você vai desistir. Deixe de ser idiota! Bata na porta e quando ele ou ela abrir faça um escândalo. Dê-me o endereço que eu estou indo lhe dar uma força.

- Mas, Rosa...

Denise passa-lhe o endereço.

- Em cinco minutos estarei aí. Por favor, não me decepcione, eu quero ver você arrasar com a cara do safado do Renato!

- Tudo bem, Rosa. É isso mesmo que eu vou fazer – diz Denise, agora, decidida.

Denise respira fundo e bate na porta. Passa-se um minuto que lhe parece uma eternidade. Ela escuta algo atrás da porta seguido por um ruído de chaves. A porta vai se abrindo lentamente. Ela não consegue discernir nem o que existe dentro do apartamento e nem a pessoa que abriu a porta. De repente a luz se acende e ela vê, a princípio, duas pessoas: Renato e Rosa. Atrás dos dois ela vê uma mesa repleta de salgadinhos, doces e um bolo enorme. Pelas laterais da sala ela vê seus amigos, amigas e familiares. Rosa inicia o coro, que não chegou sequer ao término da frase “Parabéns a você”. Denise perdeu os sentidos, desmaiando nos braços de Renato.

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