Tema 035 - PARÊNTESES
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DELETÉRIO
OU A CRÔNICA DO EXTERMÍNIO
Sérgio Galli
orgulhosamente apresentado por: May Parreira e Ferreira

Basta de lero-lero. Lengalenga. Fernandinho (o Príncipe), Malan, o Ministro do Apagão, o ex-genro, acólitos, asseclas, estafetas, vassalos, burocratas, tecnocratas, economistas, porta-vozes... estão cheios de dedos. Não é preciso. O sonho, o ideal de todos eles está a um palmo de seus narizes. No gabinete ao lado. A solução para o Brazil (em ação!) não requer muita sofisticação e nem sofismas. Muito menos prática e conhecimento.

Basta o Príncipe baixar algumas medidas provisórias (permanentes – tal qual a cpmf).

A primeira, de impacto imediato: o extermínio dos inativos. Não são inativos mesmo! Ora, nada mais econômico, justo, e, principalmente, imprescindível para manter o ajuste fiscal do que extinguir os inativos (aposentados). Pode-se optar pelo garrote vil. O Fuzilamento. O enforcamento. Quiçá, para copiar os americanos, dose letal. Melhor, deletar. Afinal, o termo é apropriado para este mundo internético, cibernético, globalizado. Para quem vive no mundo de gráficos, planilhas, pesquisas, tabelas, equações, algarismos, álgebra, algaravia, inativo é um empecilho numérico. Um estorvo percentual. Défict orçamentário. Feito isso, o balanço poderá ser fechado com o equilíbrio das contas. Comme il fault.

Foi apenas o começo. Medida primeva. Deletado os inativos, o próximo passo é exterminar os excluídos (o eufemismo globalizado é muito melhor que pobres). Afinal, eles não pagam imposto (diretamente). A alíquota deles é zero (Everaldo descabela-se quando vê, na planilha, o sinal de traço para estes não contribuintes, portanto, não existentes). Neste caso, pode-se optar por medidas homeopáticas. Menos sangrentas. Tipo Brazil em ação. Todos para o SUS. Cestas básicas. Frentes de trabalho. Leve-leite. São ótimas por vários motivos. Os marqueteiros, além de ganharem uma graninha, comovem a classe média. Criam a ilusão de que a questão social (o “s” do PSDB, lembram-se?) está resolvida.

Por falar em classe média, ela é a próxima etapa. Aí, a blindagem estará completa e o FMI abrirá um largo sorrio. Impostos. Impostos. Impostos.

Taxas. Taxas. Juros. Juros. Juros. Planos de Saúde. Escola particular. Faculdade particular. Previdência privada. Doença privada. Saúde privada. Morte privada...Claro, tudo isso de forma lenta e gradual. Não se pode matar as galinhas de ovos de ouro de uma vez só. A meta fiscal, fim último do Príncipe, será cumprida.

Um parêntese. O Príncipe sempre “muderno”, na vanguarda, de vez em quando tem umas recaídas arcaicas. Retorna aos tempos delfinescos. Brasil Grande. A causa da inflação e de todos os males do Brasil não é a saúva, é o salário. São os inativos. São os pobres. Às vezes, a classe média. Raramente, as classes produtoras. Elas insistem em aparecer nas tabelas, nos gráficos. Sim, na linha déficit. Débito. Portanto, é preciso deletá-los.

Por fim, para gáudio do ministro do apagão e dos ex-genro, apaguem-se as luzes (século da), os iluministas, os pessimistas, os anarquistas, os sofistas, os pré-socráticos, os dialéticos, os holistas, os budistas, prestamistas, correntistas, os metafísicos, o luar, o sol, o pôr-do-sol, as cachoeiras, as planícies (o planalto central, nem pensar), a fauna, a flora, os protozoários, as amebas, os rios, os mares, os lares, os pedestres, os cidadãos...

Restará, para êxtase, dos malans, dos príncipes, dos ministros do apagão, dos ex-genros, dos economistas, dos porta-vozes, do bush, do greenspan, do enrique iglesias, um espécime: o automóvel. Tudo hoje em dia é feito em função do automóvel. Cidades. Casas. Lares. Centros Comerciais. Alimentação. Ruas. Estradas. Vida. Morte. Deus-ex-machina.

Fecha parêntese. Síntese. Práxis. A solução é alugar o Brazil. Vender.

Sublocar. Leasing. Voltemos às capitanias hereditárias. Malan, o alcaide-mor. A Amazônia tornar-se-á um parque temática da Walt Disney. O Pantanal, para o estúdio do Spilberg. Maranhão, de volta para os franceses. Pernambuco, para os holandeses. Bahia, para os português. O litoral para os japoneses. Irá tornar-se um imenso Cancun. São Paulo e Rio, filiais de Miami. E por aí afora.

Por favor, avisem-me. Vou pedir exílio. Esqueci, estou deletado!
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