CERTO E INCERTO
Maurício Cintrão
 
 
Tenho comigo muito mais dúvidas do que certezas. Acho que é por isso que não me considero um sujeito muito interessante. Dúvidas todos têm. Certezas é que estão em falta. Mais ainda nestes tempos em que as informações fluem a velocidades cada vez maiores. Muitas certezas caem por terra pois as novas informações e os novos comportamentos provocados por elas estão abalando as certezas por aí.

Daí, sou um chato cheio de incertezas. Às vezes me sinto descaradamente incerto. Talvez esse seja meu grande inimigo íntimo. Não tenho medo de mostrar incertezas. Tenho medo, isso sim, das certezas porque não sei se estarei certo delas amanhã. O incerto é matéria-prima do novo, mas o certo pode ser a areia na engrenagem máquina das transformações.

Mas não adianta simplesmente jogar as certezas pela janela e decretar o incerto como certo porque aí vou estar, apenas, apagando todas as regras do jogo. Quem joga sem regra não joga, bagunça. E eu já estou cheio das minhas próprias bagunças. Assim, tenho tentado jogar duas modalidades diferentes. Jogo dentro da regra, tentando acertar. Jogo fora da regra, tentando errar. Na média, alguma coisa pode sair daí.

O certo é que não tenho alcançado grande progressos ultimamente. Ando um sujeito muito chato, mau humorado, eventualmente irascível. Perco a paciência com as idiossincrasias alheias simplesmente porque já não acredito nelas como elementos que permitam fazer viver. As pessoas se sufocam em suas manias. Sufocado com as minhas, fico irritado em ver nos outros defeitos parecidos com os meus.

Incerto, tento seguir meu caminho, em busca de mim mesmo, em busca de um sentido para a vida. Tenho filhos e eles dependem de mim. A eles não abandono, mesmo na falta de certezas. Mas tenho projetos e não posso me dar ao luxo de atulhar as gavetas da alma com eles. Ou tiro minhas idéias do papel, ou promovo um enterro à altura. Mofando assim, como estão, não podem ficar.

Não incendeio mais quem gostaria de incendiar. Também não entro em combustão com a mesma facilidade que o fazia há alguns anos. Mas não posso namorar a decomposição como se o desmanche dos meus sentidos fosse parte do ciclo biológico. Ainda não morri. Por isso, quero achar a minha paz incerta e a revolução das minha certezas.

 
 
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