PERDAS
Larissa Schons
 
 
Início . . . . . . . . . .

Nasceu pequenininha, fraquinha que só vendo. Era portadora do vírus hiv. A menina soro positivo era o xodó da Instituição. Era uma criança alegre, sonhadora, inovadora e solidária. Catarina com o seu coração de ouro via no dia-a-dia daquela Instituição os seus amiguinhos indo um a um. O significado de perda era a única coisa que desolava o seu coração. Manteve-se forte até os 15 anos de idade. Não havia manifestado a aids rapidamente. E vivia disposta, lutando, esclarecendo as pessoas, combatendo o preconceito. Tinha sempre um sorriso no rosto. E seu olhar já dizia tudo: Se precisar de ajuda, conte comigo! Mas naquele domingo quem precisava de ajuda era ela. Ali no quartinho, sabendo que o seu fim estava próximo compreendeu o significado de perda que tanto a afligia. A vulnerabilidade que sentia com a perda de seus amiguinhos era uma mistura de culpa pela sua própria sobrevivência. Toda sua vida se sentiu indefesa, mas mesmo assim se manteve forte. E agora diante da morte, tinha a certeza que nunca esteve sozinha, que ela e todas as pessoas lutaram contra a AIDS durante suas
vidas. Isso lhe dava paz, uma paz de espiríto tremenda e uma certeza, a certeza da plena compreensão da vida.

 

. . . . . . . . . . Meio . . . . . . . . . .

Lucinha e Lenir: duas amigas muito confusas e lunáticas. Pedro: o gato que lembra e guarda.

- Lucinha, cadê meu guarda-chuva?

- Ué! Você não estava com ele?

- Não mulher! Se lembra que eu dei pra você segurar enquanto eu pagava o sanduíche?

- Ai! Então eu esqueci lá no Cafofo.

- Ai, meu Deus! Perdi meu querido guarda-chuva. Era de estimação, sabia? E tinha historia.

- Como assim tinha historia?

- É que um dia eu dividi esse guarda-chuva com aquela coisaaaaa maravilhosa do Raí. Menina, nem te conto. Maior chuva, maior toró e nós dois ali. E ele sem, e eu com. Batata! Tirei meu guarda-chuva da bolsa e perguntei se ele queria uma caroninha até o estacionamento. Lógico que aquele Deus grego concordou. E lá fomos nós dois. Eu juntinha, agarradinha nele pra não me molhar e ele segurando o guarda-chuva. Foi o must! Pra você ver, até o Raí pegou no meu guarda-chuva. E você perde ele. Meu guarda-chuva de estimação, mas que raiva!

- Calma! Vamos lá então! Se eu deixei lá, deve estar lá, ora bolas.

Chegando no cafofo.

- Moço ô seu moço, por um acaso você tem aí um guarda-chuva vermelho? É que eu esqueci aí ontem! Tou até sem graça de falar, sabe?

- Primeiro mocinha: você pode me chamar de Pedro. Segundo: seria isso que você estava procurando?

- Ai, Jesussss! Moçoooo, quer dizer Pedro, é esse mesmo. Você salvou minha vida. Sabia que você é a cara do Raí!!??!! Quer uma caroninha? Tá chovendo. Você pode segurar no meu guarda-chuva. Eu deixo, viu.

 

. . . . . . . . . . Fim

- Vlademir, como pode! De novo!?

- Amorzinho, acontece. Brochar é sempre uma situação, digamos, brochante.

- Você não pode brochar!!!! Hoje você não podia!!!!!

- Neguinha, pensa comigo: sofri pacas. Toda aquela tensão, juiz que era um ladrão, e por último o gol do Luizão. Deu não, Neguinha! Tou maus.

- Vasco, Vasco. Sempre esse Vasco. Eu odeio esse Vasco. Sempre que você vai assistir o jogo desse timinho e o dito cujo perde, você, você, brochaaaaa, Vlademir!!!!!

- Que saco! Não precisa berrar. É o meu time, Terê. Final de campeonato, pô.

- E aqui? Aqui o que que era? Decisão, meu filho! Vlademir, faz o seguinte então, vai, vai lá dormir com o Eurico Miranda! E me deixa em Paz!

- Ops, brochei de novo!!!!

 
 
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