FRAGMENTOS
Eloi Xavier
 
 
Há momentos que ficam registrados, mesmo que em fragmentos, e tempos depois ainda nos persegue, como algo que não pode ser esquecido. Lembro-me de meu avô, voz imponente, olhos cansaços, cabelos embranquecidos, sempre com um sorriso nos lábios, pronto para nos contar uma das suas tantas estórias.

Em seus últimos dias, já não possuía o mesmo vigor de antes. Encontrávamos na varanda ao entardecer. Seus olhos já não fitavam o horizonte a contemplá-lo. Talvez seus pensamentos já estivessem distantes, pressentindo pouco a pouco o fim da sua mais bela estória.

Mas não são suas estórias que hoje preenchem a minha lembrança. Quando me lembro dele, recordo-me de um natal onde reunimos toda a família. Naquele final de ano, meu avô ganhara uma tevê colorida, com uma novidade até então desconhecida: um controle remoto.

Quando reunimos todos na antiga sala do casarão, o velho patriarca sentado na cadeira que pertencera a seu pai, exibia orgulhoso em suas mãos a novidade tecnológica. O aparelhinho mágico, que mais tarde serviria de inspiração para seu novo apelido: Vovô Zap, o fez tornar naquele momento o centro das atenções. Ele tinha nas mãos, o controle da família novamente. Dependeria dele, o que os nossos olhos iriam observar a partir daquele instante. As nossas ações, estariam totalmente dependentes daquelas frágeis mãos que outrora detinha o poder. Por alguns instantes, estávamos à mercê das decisões que ele iria tomar.

Depois daquela noite, e de muitas que viriam, assistir tevê com o vovô, era uma estranha diversão. Pois na verdade, não era a tevê que assistíamos, ele não deixava em um único canal por mais de dois minutos. O que assistíamos era ele e seu semblante de satisfação.

 
 
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