REPRISE
Viviane Alberto
 
 
No século passado, quando eu ainda era uma criança, o máximo, o chique, era ter um vídeo cassete. Nossa, era tu-do! Imagine, uma coisa que passava e, grandioso, gravava toda e qualquer coisa que fizesse parte da programação da tv.

E ele começou a aparecer nos lares abastados bem antes das indefectíveis antenas parabólicas, o que significa que, na maior parte das vezes, a gravação era um chuvisco só. Mas era um chuvisco gravado e isso era o que importava. Quem tinha o poderoso aparelho podia assistir trilhares de vezes aqueles filmes maravilhosos que passavam na sessão da tarde. Assistir no domingo! Era o recibo incontestável da posição social do sujeito. Tinha vídeo, era do jet-set.

Basta dizer que o meu sonho de menina era ter um vídeo pra gravar aqueles programas do Menudo que passavam no SBT. Mas o bom Deus existe e eu só fui ter um videocassete em casa quando os menudos já eram uma sombra em um passado longínquo. E isso prova duas coisas: que eu nunca fui do jet-set e que a fórmula das boybands já era um sucesso de vendas. Mas não se preocupe, eu não vou falar dos Backstreet Boys. Não hoje.

Voltando pro século XXI, olho pro meu sonho da infância que está bem aqui, próximo ao computador. Design antigo, quadradão. Obsoleto, pra usar uma palavra que nem existia quando ele estava na moda. Tão passadinho o coitado, que ainda tem botões pra apertar. Sorte ele estar desligado, senão acenderia uma luzinha vernelha, de vergonha.

Mas a culpa não foi dele. Nem das fitas de batizado que as pessoas nos obrigam a assistir. Simplesmente ele foi atropelado pela tecnologia.

Já reparou nos aparelhos de tv de hoje? Eles têm a capacidade de além de ter uma tela monumental, apresentar dois, três canais por vez. Tiraram da gente o prazer de zappear com o controle remoto, passear pela programação. Ta tudo lá na tela, filme, novela e futebol. As tv´s por assinatura nos dão até a opção de escolher o melhor ângulo, somos os diretores na nossa sala de estar. E mais o DVD que chegou pra ficar, isso ninguém discute. O preço caiu, marcas apareceram e novos títulos pipocam a cada dia, sortindo as prateleiras com uma sucessão de opções de alta definição e som surround. O mais doido de tudo isso é que pouquíssimas pessoas faziam coleção de filmes. Agora, qualquer um tem seu DVD preferido. Compra-se até na banca de jornal. Onde antes estavam as inocentes figurinhas, hoje pode-se encontrar Garganta Profunda.

Eu nunca imaginei que tivesse tanta curiosidade pra ver cenas extras, erros. Ultimamente tenho me flagrado ansiosa pro filme acabar pra ver os extras... Logo vão lançar títulos só de cenas cortadas. Como bônus eles podem incluir um curta. Calma, é só uma idéia. Boba, mas idéia.

Enquanto a gente vai acumulando quinquilharias tecnológicas na estante, o vídeo-cassete pode continuar tranqüilo, empoeirado no seu canto. Ainda restam as filmadoras! E enquanto houver uma filmadora doméstica, haverá alguém pra pedir que você deixe uma mensagem pro seu afilhado. Se houver alguém filmando, seu tio vai querer dançar com a amiga da sua irmã no casamento do seu primo. E ele vai cair, acredite. Relaxe, olhe pra lente e dê um tchauzinho. Mantenha a calma, porque eu sei que você já viu esse filme.

 
 
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