CUÁNDO, CARAJO, COMEREMOS CARNE?
Bruno Freitas
 
 
Estive em Cuba no inicio do ano 2000, e tive as mais estranhas impressões daquele país. Pois não vi maravilhosa saúde pública cubana, e graças a Deus não sofri nenhum acidente, e nem mesmo adoeci por lá. Também não vi o ensino público e eficiente de lá, a ponto de vislumbrar, se não analfabetos, mas ignorantes pela falta de informação e até mesmo médicos servindo de taxistas, fazendo uma viagem de San Antonio de los Baños, hasta Havana, despues a Santa Maria, y hasta Cienfuegos. Por quanto? Apenas cinqüenta dólares, e as vezes até mais. E isso, porém não me assusta, me assusta o fato de receberem dez dólares por mês, fossem médicos, policiais, motoristas, advogados, professores, etc. Pois, ali todos são funcionários públicos, "minimize, que o chefe chegou!". Tive a impressão de estar vivendo em meio a uma eterna e imensa assembléia estudantil. Vi tanta burocracia que pensei no Congresso, no IML, INPS, FGTS, CPF-CIC, RPS...

Senti tudo isso, por que vivi como os cubanos, senti na pele o frio das duchas ao amanhecer, por que é considerado um crime contra a economia do país usar chuveiro elétrico. Senti na pele a vontade de comer carne e saber que mata uma vaca, ou um boi, é crime inafiançável, de 20 anos de cadeia. Senti na pele, entrar num buffet com uma refeição realmente decente, e deparar-me com o preço de cinqüenta dólares por pessoa, seis dólares por um cheese-burger salada com batatas fritas. E que os próprios cubanos saibam que o bloqueio econômico, somente existe para os desprovidos de dólares. E esses mesmos cubanos desprovidos de dólares, que dizem: "La libreta de Fidel no me alcanza", são aqueles que sentem as maiores necessidades. Como bem escreveu Juán Tomáz Guttiérrez: são três as necessidades cubanas: "café da manhã, almoço e jantar".

E que ainda, tenha escutado uma ridícula história de que nos idos de 1994, quando não existia mais queijo na ilha, os cubanos comiam pizza com camisinhas... Isso mesmo, no lugar do queijo, usavam camisinhas (não usadas, por favor), pois, um cubano nos contou envergonhado, e que ninguém crê, e nos dão por piadistas. Mas é claro, que estamos brincando, pois, lá existem as cadernetas que lhes dão direito a comida suficiente para uma semana, pois, são doze em cada casa, e mesmo alguns mais velhos, decrépitos, e deficientes, possuem apenas uma velha cadeira de rodas, na qual dormem, desaiunam, encenan, almuerzan, e esperam seu enterro passar. Pois lá ainda existem aqueles que despejam seu lixo, do décimo andar dos sobrados arquitetônicos em Havana Vieja, e esperam que a gravidade conspire a seu favor.

Gostei do povo, do país, mas é uma gente muito sofrida, mas que precisa de qualquer jeito arrancar qualquer dólar que puder dos turistas. Sabem aqueles filmes, como Tudo por uma esmeralda, ou As minas do Rei Salomão, onde os aventureiros passam por vilarejos, alvoroçando a população que cerca-os como abutres sob defuntos. Nós os turistas, sentimos o mesmo, pois, o povo cubano, necessitado, cercava-nos a pedir de tudo, a oferecer-nos de tudo: "Quieres una habitacion?, algunos puros (charutos)?, jineteras (prostitutas)?". Pois, lá a prostituição continua intensa, a ponto de maridos oferencendo as mulheres aos turistas. Existe também um certo turismo sexual, onde velhos estrangeiros, adotam michês cubanos musculosos e másculos, interessados em sair do país, ou mesmo ganhar alguns dólares a mais. Com esses dólares a mais, os cubanos, que bem podem ser os médicos taxistas, as pensionistas e alberguistas, as jineteras, os jineteros, os vendedores de puros, e os maloqueiros de plantão, dirigem-se aos supermercados para embaixadores, en la calle setenta, pois, lá poderão encontrar as garrafas de Coca-Cola sem rótulo, hecha em México. E que cuba libre não existe, lá é Rón com Thu-Cola.

Garanto que os cubanos não saberiam o que fazer, ao morrer Fidel. Perguntei a muitos, o que fariam os cubanos após a morte de Fidel, e nenhum soube responder a questão, a não ser com evasivas e dissimulações. Enquanto encontrei outros muitos, que disseram livre e abertamente, que os tirassem dali, de qualquer jeito, que arranjassem-os algum emprego aqui no Brasil. Pois todo o povo de Cuba foi vencido pela desmotivação, e agora acomodaram-se em não fazer nada, pelo medo de serem presos por qualquer coisa. E que tantos empreendem a travessia até Miami, boiando em 'pneumáticos', que mal flutuam com o peso da galera. E que a máfia cubana de Miami, seqüestrou o menino Elián. "Salvemos a Elián! Devuelvan Elián a su pupitre, a las manos proteyoras de su padre, y al cariño de sus abuelas! Devuelvan Elián, puercos imperialistas!". E que Fidel já é mais que um monumento, uma lenda viva, um pilar do governo cubano, enfim: uma pedra falsa. Já que ninguém sabe seu paradeiro, e nem onde reside oficialmente o ditador vitalício da república federativa de Cuba. Muito menos, o que Fidel faz com seu dinheiro? Dinheiro vindo do turismo, é claro! E nós, turistas, estudantes, psicólogos, sociólogos, antropólogos, sindicalistas, e curiosos, somos a principal fonte de renda cubana.

Pois, como turistas, éramos abordados por qualquer motivo, e ao descobrirem que éramos brasileiros, perguntavam-nos: "qual era o final "Del rei del ganado?", novela com Antonio Fagundes: O rei do gado transmitida pela televisão, naquela época. Não imagina o quão hilariante era ouvir e ver Fagundes e Glória Pires hablando castellano. Também não devem se lembrar da ridícula estética televisiva dos anos oitenta. Quem não se lembra das vinhetas, das locuções, dos lay-outs, dos reclames, e até do velho Cid Moreira, ancorando o Jornal Nacional. Pois é, como a novela Brega & Chique, o Capitão Gay do Viva o Gordo, As dançarinas do Show da Vida, num contexto caribenho e revolucionista. As calças de lycra, os penteados afro bizarros de Chico Cezar, e os coloridos dos batons e maquiagens. Mas era um povo bonito, aliás foi algum dia... Imaginem então, voltar dez anos no tempo, a presenciar uma campanha de diretas já? Pois se lembram bem da situação... Aliás, quem é que hoje em dia pode viver sem celular e sem internet? Os cubanos podem, e vivem! Aliás, os turistas e os poucos cubanos que usam a internet, além de esperarem por sua vez numa imensa fila, ficam sujeitos à aprovação e do crivo do órgão censor cubano, que busca por palavras-chave como: "revolución, liberdade, capitalismo, comunismo, marxismo, comandos de la revolución, y cada barrio revolución". Até mesmo coibindo, deportando, aprisionando, e quem sabe torturando, os que mencionarem alguma coisa sobre o regime. Quem não se lembra do AI-5? Vamos gente, vamos todos reviver o paraíso cubano aqui no Brasil! Viva Costa e Silva! Que Deus o tenha... e a nós tenha também...

Además, escuché muchas bromas de Fidel y una, és cuando Fidel preguntó a una classe de estudiantes, que lo hicesten una pregunta en que todas las palabras empecacen com "C", Eliancito contestó: "Comandante, Camarada! Cuándo, carajo, comeremos carne?".

 
 
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