STREET FIGHTER
Suzi Stimpel
 
 
Eu conheci botões com a inscrição Power, Reset, setinha para frente, setinha para baixo no início dos anos 90, quanto os videogames eram febre, daquelas terçãs, que deixam o cara piradão.

Esses eram os comandos para que os personagens pulassem obstáculos, atirassem lanças, executassem seus golpes fatais e muitas outras traquinagens em 3D ou fundo plano.

O mundo dos videogames é fascinante. Nossos dedos movem heróis, fazem com que eles vençam monstros, fantasmas, guerreiros, briguentos de rua, anti-heróis, senhores do mal.

Indo para lá e para cá na cadeira, o gameplayer (nome chique para aquele carinha que fica o dia inteiro colado na frente da tevê ou do computador) dá vida os bonequinhos, e é capaz de desvendar segredos, achar pistas, descobrir caminhos secretos, encontrar itens de poder, força e magia para atingir seu objetivo maior: derrotar o grande chefe.

Todo game tem um grande chefe para se derrotar no final. E o segredo para atingir o alvo não é somente socar o inimigo, mas usar estratégia para descobrir paredes que dão acesso a salas místicas, marcar o caminho quando se está num labirinto, pisar na pedra certa no momento certo para abrir aquela passagem misteriosa para o grand finale que aguarda o nosso herói.

Percorrendo a tela, é possível encontrar poções, amuletos, armaduras. Quase sempre há pedras. Às vezes de variadas cores. Cada uma delas dá um tipo de poder ou, outras vezes, tiram a força do personagem e a barrinha de energia vai a zero. Ou seja: podem ser um grande problema para o mocinho da história.

Videogame tem tudo a ver com a vida real. No nosso dia-a-dia, a gente se depara com as mesmas coisas que os personagens: armadilhas, magia, poder, senhores do mal, briguentos de rua e até as pedras. Aquelas de tropeço mesmo. Raríssimas são pedras preciosas. Comuníssimas (esse é um absurdo de superlativo, mas vá lá..) são as pedras falsas.

Exemplos? Lá vão.

Armadilha é o que não falta em nosso caminho. Se bobear, dança, se ferra mesmo. É preciso muita esperteza para driblar as mumunhas, saber a diferença entre o certo e o errado.

Magia também rola, basta ser autêntico, ter fé e muito, muito bom humor.

Poder: todo mundo é um pouco He Man, mas saber usar o poder, quer seja o de fazer e acontecer, ou o de sedução é o lance.

Senhores do mal: Dispensa exemplos.

Briguentos de rua? Gente, eu não posso escrever tanto assim!

E as pedras? Sabe aquela sua colega de escritório que sempre elogia suas roupas, mesmo que você esteja com seu jeans mais velho e aquela camiseta que, secretamente, você usa também para dormir? Essa é uma pedra falsa. No mínimo ela tem por você um "pesar pelo seu bem ou sua felicidade", definição do dicionário para inveja.

Outro exemplo? Aquelas pessoas que nunca beijam seu rosto quando vão te beijar, beijam o ar, manjas? Outra pedrinha falsa da melhor qualidade.

É claro que no mundo dos videogames, para se combater esse conjunto de urucubaca é tudo tipo pastelaria de japonês: "Salta um item de magia! Manda um de força! Saindo uma arma transbiogeneticamentetransformadora! Olha aí um acelerador de matéria antivegetal-incavenusiana!

Na nossa vida é um pouco mais complicado vencer os obstáculos e as pedras falsas, aquelas que estão dentro de nosso sapato. As dificuldades vão existir sempre, e a gente tem que se livrar delas como os personagens dos videogames fazem: usar estratégia para escapar de armadilhas, usar magias o tempo todo e o poder na dose certa; pedir uma forcinha para o Pai Eterno para se livrar dos senhores do mal, dar um chega para lá nos briguentos e pisar na pedra falsa no momento certo para abrir aquela passagem misteriosa em que o grand finale nos aguarda: derrotar o grande chefe, no caso da vida real subentenda-se gente estúpida, hipócrita, sempre de mal com a vida, aquelas criaturas que não sabem o quanto é bom amar a si e ao próximo.

 
 
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