OLHOS VERDES
André Koloszwa
 
 
Ele não se lembrava desde quando passara a gostar de olhos verdes. Talvez, os primeiros que apreciou foram os de sua professora do primário. A princípio, achava-os apenas bonitos. Com o passar do tempo, passou a observá-los cada vez com mais atenção. O contorno, o tamanho, a cor... Ah! A cor. Ficava maravilhado com o verde dos olhos de uma pessoa. Era o que mais lhe fascinava. Com o passar dos anos, cresceu seu interesse pelo sexo oposto, e também seu interesse por olhos verdes. Sua primeira namorada tinha olhos verdes. E a segunda. E a terceira. E a quarta. A quinta tinha olhos azuis, que ficavam esverdeados conforme a luz batia.

Mas seus relacionamentos não costumavam durar muito. Ao escolher alguém pelos olhos, desprezava todo o resto: a garota podia ser baixa ou alta, bonita ou feia, gorda ou magra, um gênio compatível ou não... não importava, se os olhos fossem verdes. Não fazia de propósito. Até estava começando a ficar preocupado com isso... afinal, era um jovem bonito e possuía diversas pretendentes. Mas só conseguia se aproximar daquelas cujos olhos lhe agradavam.

Começara a sentir solitário. Afinal, não é todo mundo que possui uma íris cor-de-esmeralda. Tentou fazer análise... aparentemente, não ajudou muito. Continuava a procurar seu grande amor (de olhos verdes). E o tempo passava, e ele não a encontrava.

Certo dia, estava em uma festa quando alguém, ao longe, chamara a sua atenção. Não podia ver quem era, mas reparou na cor dos olhos (já possuía uma certa prática para fazer isso). Foi se aproximando, de modo que conseguia observar cada vez mais claramente o seu objeto de desejo... sim... eram eles. Os olhos perfeitos.

Lindos, sedutores... estava apaixonado. Eram aqueles os olhos que tanto havia procurado. Mas havia um problema. Seu dono. Isto mesmo, no gênero masculino. Um rapaz com seus vinte e poucos anos, alto e bonito. Que decepção! Os mais belos olhos que já havia visto, em uma figura masculina.

Estava convicto de sua masculinidade, mas sua paixão falou mais alto. Aproximou-se do jovem e puxou algum assunto qualquer. Durante o diálogo, não conseguia deixar de fitar os olhos do rapaz. Sua admiração chegou a tal ponto que interrompeu a conversa e, dando um suspiro, confessou: “Desculpe... mas me aproximei até aqui somente porque adorei seus olhos. É o que procurei durante toda minha vida...”.

Não chegou a concluir o que iria dizer, pois já se encontrava no chão. Buscando os olhos verdes, conseguira um olho roxo.

 
 
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