O VERDE EM QUE FIZEMOS CONTATO
Eduardo Loureiro Jr.
 
 
Como todo homem, Tadeu tinha a mulher ideal em mente. Tão ideal que talvez jamais a encontrasse, e poderia continuar solteiro do jeito que gostava, viajando e aproveitando a vida e as mulheres como todo bom sagitariano. E, bonito como era, mulheres não lhe faltavam. Até que conheceu Anna, no aniversário dela.

Anna, para seu espanto, tinha todos os requisitos da mulher ideal. Menos os olhos verdes. Falando a verdade sem rodeios, como todo bom sagitariano, Tadeu disparou:

- Você é quase perfeita. Se tivesse olhos verdes...

Anna levou dois segundos para se refazer do ataque de sinceridade de Tadeu, com quem ela simpatizara à primeira vista:

- Mas eu tenho olhos verdes!

Tadeu fixou o olhar na íris castanha de Anna, só para sentir raiva dela com mais convicção: sagitarianos detestam mentiras.

Ela, antecipando sua reação, explicou:

- Eu uso lentes de contato.

- E por que alguém que tem olhos verdes - quase gritou Tadeu -, a cor mais bonita que existe, iria trocar por olhos castanhos?!

- Justamente por isso - emendou Anna. - Meus olhos verdes chamavam demais a atenção. Me aborrecia ver aqueles homens todos se aproximando de mim, babando, só porque eu tinha olhos verdes. Para a maioria dos homens eu não passava de duas bolas bonitas e coloridas. Quando me livrei dos óculos, mês passado, optei por um castanho mais discreto. Desde então os homens, apesar de em menor número, me enxergam melhor.

- Você está mentindo - acusou Tadeu.

- Só não tiro a lente agora porque o médico recomendou não mexer muito nela nesse período de adaptação. Mas daqui a três semanas, posso encontrar você com meus olhos verdes.

Tadeu não soube mais o que dizer à sua mulher ideal.

Três semanas depois era justamente o aniversário dele. E o melhor presente foram os olhos verdes de Anna. Ali começou o namoro e a noite perfeita da vida de Tadeu.

Só deixou Anna em casa de manhã, depois de assistirem ao nascer do sol, nus, numa enseada de cartão postal.

Antes de descer do carro, Anna o beijou como se fosse o primeiro e não o último beijo da noite.

Ela entrou em casa, pegou o telefone e pediu um táxi. Terminou de aprontar a mala e, enquanto esperava o táxi, foi até o banheiro. Olhou longamente seus olhos verdes no espelho antes de enfiar o dedo neles e retirar as lentes de contato. Estava novamente de olhos castanhos, como viera ao mundo. Como toda boa escorpiana, Anna não perderia um homem daqueles por um detalhe.

Apagou a luz, pegou a mala, fechou a casa e entrou no táxi. Talvez Tadeu a visse novamente daqui a três meses.

 
 
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