VERDE ESPERANÇA
Helô Barros
 
 
Os meus olhos, mesmo verdes, andam cinzentos, introspectivos.

E os jornais são rodados e as fotos continuam sendo impressas.

E lá estão: os olhos castanhos de aparente docilidade de Bin Laden. Ele, naquela foto, olhando um pouco para cima e para direita. Será que estes olhos sutis e perspicazes querem se imortalizar na plácida e intensa insanidade? Os olhos azuis de Bush estão coléricos e ao mesmo tempo enfraquecidos pela boca que treme um ódio por inimigo invisível. Afegãos de olhos úmidos e aflitos aguardam notícias na fronteira. O cansaço e a desolação nos olhos das equipes de resgate. Olhos baços da fome e da doença. Olhos escondidos por mantos e do livre arbítrio. Hostis, de um traído. Rudes, de um traidor. Insignificantes, dos que não sabem seus direitos. Melancólicos, daqueles que prestam solidariedade. Deprimidos e lastimosos, de quem já não tem por quem chorar. Veementes e graves, dos que ousaram acreditar numa hegemonia. Violentos e irados, de quem crê no poder da própria morte para salvar uma idéia.

E os olhos inocentes. O verde esperança?

Meus olhos, por acaso são verdes, mas isto não altera o que vejo: fatos e imagens continuam sendo impressas, em todas as cores e matizes.

 
 
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