OS OLHOS DA SINFONIA
Yoshie Furukawa
 
 
Se tivesse que escolher os olhos dos sons, dos ecos que embalam minhas noites, ou me dão colo na hora em que preciso, escolheria a ti, olhos verdes, que mudam de tom, como nossos sentimentos, ... Em ti bailaria, e me deixaria ser transportada a tempos remotos. Uma dama seguindo a deixa de uma valsa, luzes ternas, vozes alegres, e os olhos verdes teus seguindo o compasso da donzela. Em seguida me convidas a mais uma dança, e a conversa a desabrochar em encanto de palavras, ... carinho, mãos segurando a eternidade nos versos e reversos dessa prosa infinita que é nossa vida.

Não sei se já vivi isso, mas sou capaz de sentir, de guiar meus sonhos além destas meras palavras. Se pudesse, estaria divagando nos olhos de alguém. Estes olhos verdes que me marcaram tanto. Que me inspirou nos desenhos, nas músicas que ouvia enquanto dirigia, e seguia. Algumas vezes os acordes eram altos, tão altos que chamava por ti em minhas indagações, ... noutras um silêncio, passageiro, mas que ficou em sinfonia.

Será que me embriaguei? Ou foi a lembrança do mar, pra onde sempre corro, toda vez que preciso de você ... Ou será que foram as folhas de outono, das quais nunca me esqueço, que correram o vento e levaram minhas mensagens...

Ou o anel de minha avó, cintilando o verde da esperança que carrego e deposito nas pessoas e na vida.

Ou é você, paizinho, seguindo as trilhas verdes de tudo que plantou e dos sonhos que me cantarolou quando era criança e até hoje me lembro.

Se tivesse que correr meus olhos, de novo, me voltaria.

Aos olhos da sinfonia, aos olhos da vida, olhos verdes, que não temem amar e prosseguir...

 
 
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