LIGAÇÃO PERIGOSA
Aline Toledo
 
 

Ela estava seminua no meio de uma roda de homens, humilhada. O namorado - não, ele não se considerava seu namorado - o amante, é melhor, ria o tempo todo, chegava a gargalhar mesmo. Por que ela se submetia a ele daquele modo? Ela se vestiu depressa e saiu correndo. Bastou ele gritar e sair correndo atrás para ela parar, sem se virar, entretanto. Imóvel, no meio da rua, ela sentia aquele hálito quente perto da sua nuca e o toque suave dos dedos dele percorrendo sua espinha. Estava dominada - tomada por completo. Ele podia fazer o que quisesse. O sexo foi selvagem naquela noite. Ela nunca havia sentido tanto prazer antes. Sempre era assim. As contas para pagar, ele prometendo que iria arrumar um emprego, a mãe dela desesperada vendo ela empalidecer a cada dia. Ela não suportava mais. No entanto, era só ele fazer aquela cara de menino carente para ela se entregar totalmente. Ela não sabia que o momento de terminar com isso tudo estava tão próximo. Na manhã seguinte, o enjôo novamente. Ela olhou-se no espelho. Por que estava mais gorda se não comia direito desde que o conhecera? Resolveu ir ao médico. Quando veio a confirmação, ela emudeceu: estava grávida. Ele sumiu por uma semana. Finalmente ela estava livre. Mas por que não estava feliz? Quando ele voltou, como se nada tivesse acontecido, ela correu para os seus braços e chorou. "Nunca mais faça isso. Fiquei desesperada. Não me deixe. Não posso viver sem você". Mas naquela noite ele passou dos limites. Estava tão bêbado que não ouvia mais o que ela dizia. A prostituta, parada no meio da sala, não sabia que seria um programa a três. Ela também não sabia. Aliás, não seria. Ela não queria. De jeito nenhum. Era a primeira vez que ela, de fato, negava-se a fazer o que ele pedia. Ele a esbofeteou. Ela conteve a lágrima e avançou sobre ele. Uma disputa brutal teve início. A prostituta foi embora o mais rápido que pôde. Os dois rolavam no chão. Ela pegou uma faca. "Dessa vez não quero mais". A força do olhar dela fez com que ele ficasse paralisado. Pela primeira vez, algo era mais forte do que ele. Uma vida nova. Sim, essa vida por vir era mais forte do que ele. Ela pôde, então, libertar-se.

 
 
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