BLITZ! DOCUMENTOS?... SÓ TEMOS INSTRUMENTOS!
Bruno Freitas
 
 
Era uma vez uma cidade com ruas largas e amplas avenidas, governada por um asno de cabelos brancos que defendia um projeto policial tolerância zero. Dirigindo por ruas e avenidas deparei-me com inúmeras blitzes policiais. Qual seria a intenção de tantos policiais nas ruas do plano piloto, sendo que morrem pessoas inocentes todos os dias na Ceilândia? Cansei de ler nas páginas dos jornais em Brasília, sobre massacres de crianças de onze, dez, doze, nove, sete e menos de cinco anos mortas na porta de suas casas por balas perdidas.

Pais do mundo todo! Ensinem as crianças que estas balas não se chupam... Saem cuspidas pelos canos dos revólveres perdidos empunhados pelos bandidos da nação "poor" aí. Talvez não tenham participado da aula em que o professor de física, explicava sobre as trajetórias dos projéteis científicos, sobre o valor correspondente à gravidade, e sobre os cálculos para que o projétil alcance o valor zero. De acordo com a gravidade, o projétil ia perdendo velocidade até tornar a cair. O projétil poderia seguir uma trajetória curva ou retilínea, e todos calculavam exaustivamente o resultado da equação, que sempre dava errado.

De modo que ao atirarem uns nos outros, de tanta felicidade por terem sido campeões em tudo, por terem sido condenados à liberdade, ou por reviverem uma emoção distante e esquecida no fundo do baú das memórias, não levavam em conta o peso da gravidade, a velocidade do vento, a desaceleração e aceleração dos projéteis. Creio que jamais estivessem imaginando que o projétil, e esse era de verdade, pudesse atingir a cabeça de uma criança de quatro anos. Não, isso só acontece nos filmes e nas novelas, nós aqui, da realidade, somos imortais.

Pois, quando resolvemos desafiar as leis da natureza e atirar para o alto ignorando a gravidade, ou descobrir os limites do quatro rodas pilotado com imprudência por auto-campeões automobilísticos, após bebermos e discutirmos nos postos vinte e quatro horas, estamos infringindo nosso direito de ir e vir, contanto que não interfiramos no direito dos outros. Pois quando percebemos que estamos num retrocesso, após perdermos os tais postos vinte e quatro horas, e continuarmos como uns dez anos atrás, onde não se podia comprar cigarros depois das dez horas da noite, por não haver onde.

Pois é, quando somos parados nas blitzes policiais e temos que providenciar CPFs, RGs, habilitações, documentos de veículos e desculpas esfarrapadas por estar além dos limites permitidos, estamos pensando no porquê de tantas crianças mortas na Ceilândia, no porquê dessa tal lei seca e no porquê dessas malditas blitzes que nos furtam o último centavo do mês, para imaginarmos o tamanho do buraco que os departamentos, responsáveis pelas blitzes, devem estar cobrindo.

 
 
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