LIGAÇÃO PERIGOSA
Cláudio Rúbio
 
 
Deitei minha cabeça sobre seu ombro, tenso, forte.

- Que foi?

- Nada.

Era mesmo nada, um nada pesado, que me cansava.

- Vou me deitar.

Seu silêncio era quebrado pelos cliques do teclado.

- Você não vem? - eu, atravessando a porta.

- Daqui a pouco.

Não viria. Caminhei para a cama, autômato, solto, sólido, e despenquei. Dormi um sono leve, interrompido pelo som dos cliques do teclado e a luz morta do monitor na sala, fazendo fantasmas de sombras móveis dançar à minha volta.

O pensamento que não vinha.

- Pronto! - disse e desligou o computador.

Veio em silêncio, no escuro que já conhecia, deitar-se a meu lado.

- Ainda acordado?

- Sim.

- Acalme-se. Está pronto. Enviei agora. Amanhã, pela manhã, ao receber, entenderá. - disse e me beijou - Boa noite.

- Boa noite.

Não dormi. Vi que os fantasmas ainda dançavam cheios de sombras, agora à nossa volta. O amanhecer.

- Está na hora.

Saímos. O dia quente, o Sol não aparecia. Não ventava. Nosso carro não tem ar-condicionado. Abrimos nas janelas frestas.

- Temos mesmo de ir?

Ficou em silêncio. Era assim: quando queria dizer sim, ignorava-me.

- Temos?

Eu sempre repetia a pergunta uma vez, antes de desistir.

- Ele está lá.

- Qual?

- O velho.

- Nos jornais é diferente.

- Mas é ele. Está levando a pasta. E indo ao bar. Estamos perto... - e sorriu sem olhar para os lados. - Entrou no bar. Vamos.

Entrei primeiro. Sentei com o velho.

- É você?

- Sim. Trouxe o que lhe pedimos?

- Sim, trouxe. E minha filha? Onde está?

- Ali, na porta, veja... - eu disse, apontando para a entrada do bar, onde ela havia ficado esperando - Mas, nem pense em correr até lá. Há gente do lado de fora, apontando para ela.

O velho congelara. Entregou a pasta, o olhar preso à filha, na porta.

- E agora?

- Está tudo aqui?

- Sim, o combinado. E agora, vão soltar minha filha? Posso ir?

- Ela pode entrar agora. Vai sentar-se conosco. - e fiz-lhe o sinal.

Aproximou-se do pai. Deu-lhe um beijo na testa. Pegou a pasta com o dinheiro de minhas mãos. Sacou a arma. Deu três tiros no coração do velho. Um outro, em meu peito, que me derrubou. E fugiu.

 
 
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