SOBRE LAVAR LOUÇA
Luciana Ribeiro
 
 
Devo dizer que sempre quis escrever um texto cujo título fosse assim, "sobre" alguma coisa. Acho que com um título desses a gente lê com mais gosto. Título assim também facilita a vida do autor, que não precisa ser muito criativo, diz sobre o que é o texto e pronto.

E ainda fica elegante, dá seriedade a qualquer assunto. Ainda mais quando o assunto sobre o qual o "sobre" se refere é genérico. Acho até que se as professoras mudassem o título das redações de "Minhas férias" para "Sobre férias" seriam levadas mais a sério.

Na realidade, acho que minha predileção por este tipo de título se dá por causa do meu horror a títulos. Não, não que eu ache que as coisas não devessem ter títulos. Longe disso. Os títulos facilitam muito a nossa vida. Seria muito difícil comprar livros ou discos, por exemplo, se eles não tivessem título. É certo que muitas vezes o título engana. Você acha que o filme é um policial eletrizante e na verdade é uma pornochanchada. Eletrizante.

O meu horror é a dar títulos. Escrever até que é fácil. Difícil mesmo é dar o título certo. Ou ele é longo demais, ou piegas demais, ou vago demais, e por aí vai.

Daí a eficiência dos títulos "sobre". São sucintos, objetivos, instigantes até. Não deixam margem para dúvidas. Se o que vem depois do "sobre" não interessa, melhor nem começar a ler. E são práticos, não se perde tempo na hora de escolhê-los.

Pois dar um título a um trabalho é como lavar louça. Uma aborrecida, porém essencial tarefa a que devemos nos dedicar depois do principal - escrever ou comer, conforme o caso.

 
 
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