PARA O ARTHUR
Fátima de Carvalho Palácio

Como todos os imbecis, eu acreditei que teríamos tempo. Suposições de um amanhã. Acreditei que iria visitar você, para falarmos do momento que você estava fragilizado pela doença. Assim, sem forças, cheio de feridas, com febre. Não tão bonito.

Que riríamos daquela magreza, daquela falta de charme. No telefone, você brincou comigo. Meu coração sabia, mas meu amor por você era tanto, que tinha que supor que eu andaria pelo Emilio Ribas, como antes. Levando você para a rua.

Para um café expresso, curto. Para a loja mais próxima. O que você quer? Talvez a Nana? Talvez a Bethânia?

Venha aqui. Vamos andar pela Paulista, teu gosto pelas livrarias, a gente andando por Salvador, tuas saudades de S.Paulo, tua carta tão simples, tão obvia. Vem aqui, quero ir até o Farol da Barra com você.

Eu fui, ainda éramos suposições de sucesso.

O telefonema no começo da noite. Tenho uma vaga lembrança do Morumbi, das ruas. Dos faróis dos carros, de vozes, de cheiros. Um funeral budista não tem velas.

Nunca mais consegui supor nada sem vomitar.

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