NEM SIMPÁTICO, NEM ANTIPÁTICO, APENAS PÁTICO
Eduardo Loureiro Jr.

No fundo era um indeciso. Daqueles que nunca sabem que roupa usar, que programa fazer, a quem amar, com quem simpatizar. Mas era um indeciso criativo e disposto a resolver seu problema.

Descobriu que muitas das suas indecisões poderiam ser extinguidas se parasse de usar prefixos. Afinal, por que precisava necessariamente sim-patizar ou anti-patizar com alguém? Não poderia simplesmente patizar com todo mundo, sem ter que passar pelo penoso ritual de tomar decisões?

Se simpatia era um sentimento de aproximação espontânea em relação a outra pessoa e antipatia era um sentimento de afastamento espontâneo em relação a outra pessoa, porque não poderia ficar simplesmente com um sentimento em relação a outra pessoa?

Decidiu abolir os prefixos.

Não teria mais amigos nem inimigos, apenas migos. Amores nem desamores, apenas mores.

Se lhe diziam que era muito simpático, e realmente era, porque não sentia antipatia por ninguém, ele simplesmente agradecia o elogio com um sorriso. Se lhe diziam que era antipático, e realmente era, porque não sentia simpatia por ninguém, ele simplesmente agradecia a crítica com um sorriso.

Se todos tivessem feito como ele, abolido os prefixos, a paz na Terra talvez já tivesse sido alcançada, mas as pessoas que antigamente simpatizam ou antipatizavam, dependendo do prefixo que ele escolhia, agora continuavam simpáticas ou antipáticas, só que em relação à opção dele de abolir os prefixos.

Mas o problema que ele queria resolver não era de simpatias ou antipatias, amizades ou inimizades. Seu problema era a indecisão, e isso ele havia resolvido. Apesar de, com a abolição dos prefixos, nunca mais ter conseguido des-cascar um ovo cozido e de estar enfrentando vários processos na justiça trabalhista por ter demitido alguns funcionários sem pré-aviso.

No mais, a vida vai bem. E como pático, sem prefixos, quer dizer também "devasso, libidinoso", nem ele nem suas novas e inúmeras amantes têm tido muito do que se queixar.

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