IDÉIA DE MORTE
Renata Manzano

Aquilo vinha machucando-lhe por dentro, e, inimigo covarde, posto que invisível, não podia ser combatido.

Propagava-se como doença, e viciava como uma droga.

Era a única coisa em que podia pensar.

Seu rosto sombrio parecia uma máscara de cera. Descobrira muito cedo que não podia voar, e isso a tranformara em uma pessoa austera e triste.

O dia escolhido já amanhecia, e o sol batia no seu rosto como que chamando-a para as responsabilidades.

Justo ela, que sempre se julgara tão responsável...

Mas era muito tarde agora.

Entrou na clínica especializada em mortes absurdas.

Sentou-se.

Algumas pessoas choravam, outras folheavam calmamente revistas de fofoca.

Levantou-se de súbito e olhou ao redor.

Estava decidida.

Deu as costas para a recepcionista de voz estridente que lhe perguntava algo que não pôde distinguir, pois um coro de anjos inundava seus pensamentos.

Muitas das mulheres que lá aguardavam, simpatizaram com a alegria contagiante daquela moça, e também deixaram o local.

Lá fora, na rua, em meio aos olhares de cumplicidade e aos sorrisos de alívio, também puderam ouvir os cânticos.

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