CARNAVAL É TUDO IGUAL
Ubirajara Varela

Todo carnaval aparece alguma novidade. Neste não foi diferente. A última moda é o surgimento de um novo método de distribuição de produtos, digamos, menos classificáveis. Os traficantes abriram mão das crianças e resolveram apelar para os velhos. Sim, porque é muito mais lucrativo. Os idosos passam despercebidos pela polícia, cobram menos e, caso sejam presos, há uma lei que reduz a pena e o seu tempo de permanência na cadeia.

Um amigo que chegou do carnaval nesta última quarta-feira de cinzas, contou-me este caso.

Estava ele comemorando a vitória da Estação Primeira, sambando e cantando na maior folia, quando surgiu um senhor com mais de sessenta anos, vendendo cerveja, sanduíches e outros aperitivos.

- Olha o natural! Tem sanduíche e cerveja também. Quem quiser cocada boa, pode pedir. Tenho branca, tenho preta, tenho cocada empedrada.

Uma foliona desavisada, resolveu experimentar a bendita cocada, pensando que se tratava da iguaria baiana, conhecida nacionalmente como a mais saborosa de todas.

- O meu senhor? Qual é a procedência do seu produto?

- É baiana. Chegou pra mim ontem, lá de Vitória da Conquista.

- Que ótimo! Eu sou louca pela cocada baiana! É Maravilhosa! Quanto o senhor cobra pela preta?

- Olha... Pra senhora, é preço de ocasião. O pacotinho está saindo a quinze reais.

- Não, meu caro. Só uma me basta. Não vou levar o pacote inteiro.

- Pois é, o digníssima. Este é o preço de um volume. Quinze mermo.

- Mas isto é um absurdo! Quinze reais por uma cocadinha preta! Onde já se viu? O senhor está me achando com cara de gringa? Eu moro aqui mesmo, no Flamengo. Sou da gema!

- A senhora pode ser da gema, da clara, de onde for. O preço é este e eu não posso abaixar, senão levo prejuízo. Eu não quero perder nada. A senhora sabe como as coisas estão difíceis, a aposentadoria não cobre mais os custos. E tirar do meu patrão, nem brincando. O sujeito é intratável. Não gosto nem de falar nele. Depois aparece enfezado, aí já se viu... Nem Deus pode com o dito cujo!

- Bom... se não posso levar da preta, me vê aí uma branquinha mermo. É o jeito! Quanto é?

- A branca eu faço pra senhora por quarenta reais.

- O quê? Quarenta por uma cocada branca! Eu vou chamar a polícia pro senhor. Nesta idade avançada e ainda fazendo trambiques. O senhor deve ser da velha-guarda... Estou reconhecendo: da velha-guarda da malandragem. O Carnaval do Rio não muda, mermo!

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