PARA QUEM GOSTA DE VAGABUNDAS...
Reinaldo de Morais Filho

O cara era rico, bonito, bom de papo, mas desses há outros no mercado de homens. Luís Paulo, segundo aquelas que dele provaram, tinha de especial 'um toque mágico com as mãos, uma carícia sutil e maliciosa com as pontas dos dedos que começa na nuca e só Deus sabe onde vai parar'.

Não sei, pode ser que seja desse contato que suceda a maldição que o envolvimento com o referido moço traz. Ou o infortúnio se dê de outra forma, ocultada por aquelas que me contam. Nunca se vai ter certeza.

O que importa é que todas as mulheres que conheço, que vi, que acompanhei, ao experimentar os beijos de Luís Paulo, sofreram semelhante alteração de comportamento. Tornaram-se fúteis, vulgares, sórdidas, vis, rudes e principalmente, obscenas.

Embora em umas fosse latente este espírito inoculado em sua disfarçada retidão, outras, a maioria, mantinham comportamento avesso. Garotas recatadas, conservadoras, íntegras, singelas, tímidas, decentes. Mesmo a mais pura tornava-se devassa.

Aos poucos chegavam na casa do rapaz com saias mais curtas, ainda mais decotadas. Ousavam na maquiagem, ofereciam os seios, rebolavam indiscretamente sobre saltos inconcebíveis.

E, aquelas que pude seguir de mais perto, mudavam o discurso, alteravam o tom de voz, falavam alto, sem cortes, sem censuras, sobre sexo. Dissecavam-no. Tornavam-se mundanas, progredindo a cada encontro com o amante, até o choro final marcado no rosto borrado.

Eram abandonadas quando a metamorfose tornava-se definitiva, no momento em que, andando nas ruas faziam os homens entornarem os pescoços, as concorrentes contorcerem-se de inveja, as mais velhas fazerem o sinal-da-cruz em sua passagem.

Completava-se a transformação quando todos (homens, mulheres, religiosos e ateus, atraídos ou com cobiça) mantinham opinião racional homogênea ao observá-la passar: 'que vagabunda'.

Muitos homens, incluam-me nestes, sentem-se enfeitiçados por este tipo de amante, gostam de garotas que cheiram a sensualidade, cedem à volúpia. Luis Paulo, não. Interessava-se por aquelas meigas donzelas que lhe chegavam no início, seduzia-se por um comportamento submisso, artificial e induzido que as caracteriza.

Sabe-se lá o que acontece dentro daquelas paredes. Sabe-se lá. Talvez queira ele, como tantos outros exigem, que a sua companheira seja uma beata aqui fora e uma prostituta na cama.

E seus encantos o trazem sucesso no começo; provavelmente porque elas o querem satisfazer, agradar, conquistar. Entretanto, não pode controlar os efeitos que seu pedido faz eclodir na alma das que com ele se relacionam.

Acredito que, no íntimo, toda mulher tem uma alma devassa, reprimida pela sociedade, podada pelos preconceitos, em reboliço. Luís Paulo as liberta. Deve ter um não sei quê de cafetão que as deixam seguras para se mostrar meretrizes.

Venerado seja seu nome.

Fico à espreita dos seus relacionamentos, na expectativa do rompimento, sentado na calçada em frente ao seu apartamento, de onde sairá uma garota com os olhos cheios de lágrima e o corpo ardendo em um fogo incomensurável. O sexo nunca foi tão fácil.

Espero e assim vivo, como se fosse um peixe piloto, que segue os caminhos do tubarão para recolher as migalhas que lhes escapam dos dentes.

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