MEDO
Juraci

Medo é uma porcaria.

Isso mesmo, porcaria.

Hoje levantei-me da cama com medo. Lembrei-me de colocar o pé direito no chão, fazendo o sinal da cruz. Minha avó dizia que o sinal-da-cruz espantava até "aquilo."

A sensação de medo foi comigo escovar os dentes. Olhei para o espelho e vi um rosto de medo fazendo trejeitos. Parecia que havia um olho mágico me observando. Firmei o olhar e certifiquei-me de que era o meu próprio rosto, assustado.

Decidi voltar pra cama, cobrir-me toda e só voltar a ver a claridade do dia, no outro amanhã. Talvez afugentaria esta sensação de pânico e voltaria a de sono e preguiça.

O sono não veio e o medo causou em mim um certo tremor e suadeira. Pensamentos medrosos faziam sala em minha mente. Tentando reagir, descobri o rosto, levantei-me e olhei pela janela. O sol fazia seu percurso há longo tempo. Estava um dia ameno, coisa rara nestas paragens do norte.
Chutei o cobertor e decidida me preparei para sair e fazer compras. No meio de muita gente não ficaria com medo.

Minutos depois estava eu com o carrinho de compras deslizando pelos corredores do supermercado Amadeu. Coloquei a mão na carteira que espremia sob o meu braço para protegê-la.

"Será que alguém vai "bater" minha carteira? Se isso acontecer, estou perdida. Como farei para pagar as compras? O que fará com meu cartão, cheques e documentos?"

O medo se aproximava de mim, de uma outra maneira. Para vencê-lo resolvi esconder a carteira dentro dos pacotes de compras. Olhei para os lados e cada pessoa fazia suas escolhas cuidando de sua própria tarefa. Ninguém estava apavorada, só eu. Depois de encontrar o esconderijo certo no carrinho, fiquei mais tranqüila. Peguei outro carrinho. Um em cada mão, cheios e pesados. Paro, respiro e pronta para ir pro caixa, lembro-me de mais alguma coisa: creme dental. Giro para escolher o produto, dando as costas para as mercadorias separadas. Quando vou colocá-los no carrinho percebo que um está revirado, remexido.

- Não pode ser. Logo comigo? - Pensei alto quase num grito.

E o medo apossou de mim. Sabia que aquele olho-ladrão estava olhando para mim. Mas qual?

Uma cliente vendo o meu desespero, aproximou-se perguntando:

- Este carrinho é seu? Aquele moço mexeu nele.

- Qual moço? - perguntei quase sem fala.

- Aquele de camiseta branca.

Eu não via o moço e nem ela. Eram tantos com camisetas brancas...

A cada corredor que chegávamos o "moço" já não estava. Era mesmo um malabarista.

Foi uma correria, muitos querendo ajudar e eu desconfiando de todos eles.

Eu não sabia nem mais o número do meu telefone residencial para pedir ajuda.

Neste mundo onde vivemos, sem segurança, dá pânico.

E eu era o próprio pânico para não dizer, MEDO.

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