DESPERTADOR
Paulo Henrique Pampolin

Apesar de ser 16:25hs, continuo dormindo. Não, não troquei a noite pelo dia. Durmo por volta das 22:00hs e incrivelmente às 16:00hs ainda estou em hibernação. Provável que eu seja a preguiça materializada no formato humano.

Para se ter uma idéia, tenho o sono tão pesado que mantenho no quarto, quatro diferentes despertadores. Cada um com seu som diferente, pois uma semana ouvindo o mesmo barulho é o suficiente para acostumar-me com o som e confundir com Danúbio Azul de Strauss. Uma semana uso o rádio-relógio sintonizado entre uma rádio e outra, ou seja, puro chiado e no volume máximo. Na outra, aquele tradicional despertador, redondinho, com dois sininhos em cima, proporciona-me um barulho infernal. Tem também um quadradinho digital, daquele que mais parece sinal de ocupado de linha telefônica. Não toca tão alto, mas é mais incômodo que sinfonia de pernilongo. O outro é um papagaio que começa dizendo baixinho "wake up"... e aumentava o volume automaticamente até ficar aos berros "WAKE UP". Não tem quem consiga continuar dormindo.

Com o passar do tempo, todos foram ficando obsoletos e tendo seus sinais sonoros confundidos com música clássica. Claro, inverteu a função, ao invés de acordar-me, mergulhava-me em sono ainda mais profundo. Babau compromissos e horários.

Fã número 1 do coiote que vivia tentando pegar o Papa-léguas, passei a ver tal cartoon com maior freqüência, tentando inspirar-me no reconhecidamente criativo coiote. Suas engenhocas anti Papa-légua são realmente fantásticas e me trouxe inspiração que customizada, poderia acordar-me.

Sobre minha cama, amarrei um cordão no teto, que vinha até muito próximo de onde ficaria meu nariz quando deitado. Nesta ponta, amarrei então o despertador redondinho com dois sininhos em cima. Assim, imagine a cena, eu deitado, um cordão descia do teto e mantinha um despertador, quase raspando o nariz. Estava perfeito, na hora de despertar, tocaria como se fosse dentro de meu cérebro. Não tinha como não acordar.

Chegada a hora da estréia, satisfeito com a engenhoca que de bonita nada tinha, mas a funcionalidade estaria a prova naquela noite.

Mais uma vez, sentei na cama e antes mesmo de me deitar, já estava mergulhado em sono profundo.

Às sete da manhã, um som ensurdecedor invadiu tímpanos, narinas, fígado, corrente sangüínea e cérebro:

- TRIIIIIIIIIIIIIIIMMMMMMMMMMM!!!!!!!!!!!!!!

Com o susto, face ao inesperado, rapidamente dei um salto, batendo com o nariz no relógio. A dor insuportável e o sangue que jorrava, aumentaram a adrenalina. Peguei o relógio e arrebentei-o na parede. Caco para todos os lados e o triste fim de um despertador.

Hoje, continuo assistindo ao cartoon do coiote tentando inventar algo novo. Enquanto isso, não tenho mais de onde tirar desculpas esfarrapadas por meus atrasos. Eu só queria ser normal.

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