DE MAIS NINGUÉM
Kleber Carrilho

Naquele momento, lembrou-se do início do namoro. De quando, apaixonado, prometeu que a tiraria daquela vida para sempre. Ela, que disse ter se decidido pela profissão por não ter outra forma de ganhar dinheiro, de pagar as contas da família. Que disse também que seu sonho era encontrar alguém como ele, um homem de verdade, com quem não tivesse de fazer amor por obrigação. Um homem que a fizesse gozar.

Aqueles dois meses tinham sido os melhores da vida. Embora tudo o que ganhava fosse para agradar os desejos da amada, valia a pena. Aos poucos, ela ia deixar de achar que podia ter tudo. Depois, poderia largar um dos empregos, ficar com ela mais tempo. Podia fazer com que ela ficasse em casa, cuidando do lar que era dos dois, no qual criariam os filhos que teriam. Um casal, como ela queria.

A única coisa que o importunava às vezes era no número de homens que já a tinham possuído. Gostaria de saber o número exato. Não sabia por quê. Eram fantasmas que o apavoravam. E deveriam ser mortos. Um a um. Ou aos montes.

Lembrou-se também da hora em que a encontrou na mesma casa, bolinando da mesma maneira os homens no balcão, com a mesma cara lasciva que ele vira na primeira vez. 

E lembrou-se também da explicação: ele não tinha tempo para ela, por isso teve de procurar a vida de novo. A lida.

Pensou de novo em quantos homens já teriam entrado naquele corpo.

Que não seria mais dele. E de mais ninguém.

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