O CULPADO É SEMPRE O MORDOMO?
Ana Carolina Boccardo Alves

Quando pequena sempre gostei de enigmas. As histórias de Agatha Christie, Edgar Allan Poe e Sherlock Holmes me fascinavam. Descobrir qual o final era minha paixão. Aliás, lembro também de outros livros cujo final do mistério era eu que escolhia. "Se quiser entrar pela porta da direita, vá pela página tal. Se quiser ir pela esquerda, vá pela tal."

Lendo isso quando somos adolescentes, temos a idéia que a vida funciona da mesma forma. A gente lê o livro achando que sabe o final, afinal "já vi essa história antes". Ou então achando que as nossas escolhas fazem o caminho, que elas definem. Isso faz parte do complexo de Deus que nós, seres humanos, costumamos ter. Onisciente, onipresente, onipotente, "nem uma folha seca cai do chão sem que o Senhor saiba".

Só que aprendemos, a duras penas, que não funciona assim. Um exemplo simples é quando o carro quebra, a gente não chega. O avião não parte por más condições do tempo, perdemos o ônibus...

Já num outro caso mais complexo a gente age de determinada forma porque acha que sabe como o outro vai agir, porque afinal de contas quando acontece tal coisa as pessoas sempre agem daquele determinado jeito. Entendeu? Não? Na prática, seria mais ou menos como uma outra crônica que escrevi, a "Suposições", onde os dois agem a partir do que pensam como o outro vai agir. Não funciona.

A vida surpreende. E isso não é chavão. Ela é um enigma constante, cujo final de cada cena não vai ser o mesmo que o de cenas anteriores, suas ou dos outros. Por mais que os antigos nos digam que têm experiência e que sabem como isso vai terminar eu me recuso e digo: não, vocês não sabem. Nunca é igual. Parecido, no máximo. Pensar antes de agir é válido. Mas agir em função do que se acha que vai acontecer não. Pode ter certeza que (Graças a Deus!) o enigma da vida vai te surpreender.

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