QUE ENIGMA?
Cavour Sanino

Será que o mundo se deu conta de que o grande enigma da humanidade já foi decifrado? "Por que existimos?". A pergunta primordial acaba de ser respondida, naturalmente, e aparece estampada nos visores de cristal líquido das bolsas de valores. 

O sentido da vida é o mercado. A purificação é gradual e a cada cheque assinado, a cada depósito bancário, adquirimos créditos, ações do Grande Banco Transcendental. É como se mais um centímetro do lençol que são nossas almas fosse levado mais branco a cada vez que os números dos nossos cartões de crédito surgem na tela dos computadores das Veneráveis Administradoras.

Compaixão, fé, solidariedade, amor. Meros conceitos filosóficos ultrapassados; práticas supridas pelas atitudes devocionais de comprar, vender, comerciar, fazer dinheiro, para espalhar aos quatro ventos os milagrosos fluidos monetários.

É a senda que leva à iluminação, porém cobra de seus devotos praticantes obrigações diárias, como entoar jingles das marcas mais sagradas, praticar a contemplação dos ensinamentos digitais e, sobre todas as coisas, oferecer os juros, o serviço de administração desse estado de inspiração permanente e onipresente.

Aos poucos a energia transformadora do capital volátil vai reduzindo as diferenças entre os devotos. Os menos inclinados a seguir o caminho da iluminação por não alcançarem as virtudes econômicas necessárias são convertidos também. Ainda que à força. E portarão armas para exercitarem a guerra, como soldados em uma santa batalha em defesa dos princípios que regem a Grande Ordem. Se caídos em combate estes serão elevados à categoria de mártires da livre iniciativa e do controle da população de inviáveis.

A esfinge foi subjugada. De agora em diante tudo é uma questão de tempo. 

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