FIDELIDADE E MEIA
Daniela Schmitz

Ok, eu me rendo. Fidelidade é assunto batido, espancado e mais do que mastigado. Seja em rodinhas de fofoca, confessionários católicos, no leito matrimonial e principalmente nas mentes mais desconfiadas de cada ser comprometido deste mundo. A própria mídia faz a sua parte deixando que o tema alcance sua fama deitando na cama de novelas, filmes e programas dos mais diversos. Pulada de cerca sempre rendeu pano pra manga, se bem que todo mundo sabe que o que mais atrapalha nessa história é excesso de tecido.

Relatos curiosos rondam o assunto, como o que fui obrigada a ouvir numa recente viagem de ônibus. Duas moças conversavam animadamente atrás de mim, num tom que não me permitia dormir nem muito menos deixar de ouvir o papo. Sabe quando alguém atende o celular do seu lado? Pois é, você não pode simplesmente estalar os dedos e perder o sentido da audição para garantir a privacidade da pessoa, muito menos cantarolar e assobiar alto o suficiente pra abafar a conversa. Resultado: você ouve 50% do papo e deduz a outra metade a partir das respostas do indivíduo. No caso do ônibus, eu ouvi tudo, fato, perguntas, respostas e risinhos, muitos risinhos. 

A mais nova das garotas contava que há muito um dos amigos de seu namorado a vinha assediando. Depois de relatar meia dúzia de investidas do rapaz, chegou no momento em que os dois finalmente ficaram sozinhos, resultado de um plano maquiavélico arquitetado por ele em que o grau de inocência dela era menos um, ou seja, ela saiu de casa sem jamais imaginar que pudesse vir a ficar sozinha com o dito na casa de outro fulano. Diante de tamanha perspicácia, a moça acabou cedendo e, em questão de minutos, estavam os dois rolando pelo tapete. A blusa dela já fazia parte de decoração da sala e ele se empenhava em abrir o zíper de sua calça, só que antes era necessário deixar o caminho livre tirando o calçado da menina. Quando o garoto avançou para o sapato, a moça teve um estalo de consciência e lembrou-se que, pela manhã, havia colocado uma meia furada que deixava o seu lindo dedãozinho totalmente descoberto. Em questão de segundos, ela levantou-se, vestiu a blusa, fechou a calça e saiu em disparada deixando o moço boquiaberto com o acesso de fidelidade.

No final de tudo, a menina confessou à amiga que agüentaria firme alguém condenando seu ato e a chamando de vagabunda, mas nunca, nunca mesmo superaria o fato de ter sido vista por um homem com uma meia furada. Coisas da cabeça de uma mulher. 

fale com a autora

Para voltar ao índice, utilize o botão "back" do seu browser.