DE MEMÓRIA E ESPERANÇA
Virgínia Pinto e Nosé

Quem nunca teve um amor impossível, que atire a primeira pedra. Aquele que é levado pela vida afora, sem muita consciência e que nas mais inesperadas horas toma forma e corpo para te assombrar. Se foi um amor de adolescente, faz tanto tempo, que é permitido fantasiar, pois a ficção já se misturou profundamente à realidade e não faz mais a mínima diferença; agora, se foi algo da maturidade, este espaço fica um pouco mais confuso dentro de você. 

Não se sabe exatamente, onde tudo fica guardado esperando o momento exato para relembrar... É algo como uma miragem, uma ilusão fugaz de verão, uma confusão de sentimentos. Deve ter sido depois de um desabafo entre ambos quando você se viu envolvido emocionalmente, pois a cada dia que se viam conversavam como bons amigos, e você não conseguia entender o turbilhão que se desencadeava dentro de você. Ela nem sequer deu um sinal de ter sido recíproco o tal sentimento, envolta por aquela aura de mistério e infinita capacidade de te envolver e permanecer inatingível . Foi algo rápido, profundo e sutil demais.

Você prossegue pela vida. Tenta viver intensamente, dedicado ao trabalho e desfruta das horas de lazer no aconchego da família, no amor, na companhia dos amigos e nos raros passeios à praia sente ser um pouco livre como quando era criança, o vento batia na sua cara, e a vida sorria como que lembrando que você era feliz!

Porém, de súbito, aquele rosto vem à sua memória. Não sabe o porquê, mas quando está um pouco triste, cabisbaixo, mais sensível, aquele rosto surge do nada e vai tomando vulto, te deixando horas tomado pela magia daquela presença e da força daquela alma. E se permite sonhar se a tivesse escolhido. Ah, se tivesse mudado tudo naquela fração de segundo para sempre. Será que você teria sido mais feliz? Será que ela teria te feito mais feliz? Talvez você fosse mais bem resolvido hoje, mais seguro e até mesmo mais viril. E se tivesse falado o que sentia e ela tivesse correspondido? Será que ela sentiu tudo o que você sentiu? 

Não sabe e jamais saberá. Mas poderia ter tentado... Poderia ter vivido algo que jamais imaginou viver e ter sido feliz por aquilo que tinham para viver sem projetos, mas com intensidade. Teriam provado pelo menos do desejo e guardariam isso para sempre, como um segredo, e saberiam verdadeiramente o sabor suave daquele perfume que ainda ronda suas vidas. Mas não o fizeram. Não se conseguiu mudar o mutável e só se pode viver fiel à memória e à esperança do que poderiam ter sido...

fale com a autora

Para voltar ao índice, utilize o botão "back" do seu browser.