SANGRIA

Luciana Franzolin

Foi assim que aconteceu. Era um morcego que fazia parte de um brinquedo.  Encaixava-se a um projétil expulso a elástico, e o coitado saía voando rasante, coando e voltando bumerangue.

Uma hora voltou e caiu na piscina. O bicho mergulhou como pedra, meteoro, e  bateu a cabeça no azulejo azul do fundo. Ficou imóvel, como se morto estivesse, mas respirava o oxigênio da água.

Na primeira aproximação me mordeu os beiços. O mergulho era para salvá-lo e o puto me chupa sangria. Água de morcego é sangue, vermelho e quente, enquanto vivo. Coagula nos caninos seringas e esvai-se como água que não pára na concha das mãos.

Satisfeito, o morcego voltou e voou no infinito. Levou-me plaquetas, glóbulos brancos e vermelhos. Levou o que sou, e o que restou é tudo, subtraindo o morcego.

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