CEGO DE AMOR

Luís Valise

 
Era uma vez um morcego que amava loucamente uma morceguinha e, cego de amor, vivia trombando contra galhos, ramos, e até mesmo troncos de árvores, e nada de a morceguinha ceder à sua paixão. Inflamado de desejo, o jovem quiróptero voejava doidamente no escuro da floresta, (pou! trumb! clonk!) até que, já de cabeça inchada, voltava ao seu galho preferido. Lá, vendo o mundo de cabeça para baixo, tentava encantar sua amada ao som de "I only have eyes for you". Tanto tentou que um dia, não suportando mais aquele fiapinho de voz desafinado, a morceguinha cedeu. Como o morceguinho não agüentava mais, fizeram amor cedinho. Depois, repetiram. E repetiram. Quando escureceu, o morceguinho partiu feliz em vôos rasantes, e era só pou!, trumb!, clonk!, e ele nem ligava, feliz por ter encontrado o amor que cega o morcego.
 

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