EM UM JARDIM QUALQUER

Wesley Nogueira

A vespa, excelente caçadora dos ares, temível no mundo dos insetos, uma fera alada no micro-universo das pequenas criaturas, usando todas as suas habilidades para conseguir alimento, não para ela, mas para seus futuros filhotes. Procura uma lagarta para paralisar e nela depositar seus ovos, para que seus filhos possam nela nascer e alimentar-se dela, ainda viva, mas completamente catatônica pela inoculação do veneno. O tempo urge pois o sol já começa a esconder-se e ela precisa depositar seus ovos maduros.

Avista finalmente uma presa, uma lagarta verde, que por infelicidade própria esta sobre uma folha amarelada, e faz seu mergulho de ataque. No entanto, é surpreendida por um golpe do destino, em seu mergulho, vê-se presa, atingiu e emaranhou-se na teia de uma aranha.

O choque brutal da vespa com a teia desperta a aranha, uma armadilheira experiente, ao seu modo também uma caçadora, mas ela não precisa caçar suas vítimas, apenas aguarda que elas caiam na sua teia. Acostumada a moscas e pequenas mariposas, avista com seus oito olhos sua presa descomunal, uma grande vespa, maior em volume e força em comparação a ela, no entanto naquele campo de batalha, a aranha está confiante e preparada. Ela acerca-se da vespa, que agora tenta livras as asas dos cordéis viscosos da teia, vibrando-as com todas as forças. A aranha tenta tecer desesperadamente ao redor da vespa para reforçar sua armadilha, e de seu abdômen lança fios liqüefeitos que em contato com o ar formam novos, viscosos e sólidos fios. Tem de tecer rápido e nos locais certos, para reforçar sua estrutura, para imobilizar a vespa, é preciso cansa-la e muito.

A vespa uma guerreira formidável, percebe a proximidade da aranha, e agita ainda mais impacientemente as asas, que continuam presas, tenta jogar o abdômen e seu ferrão contra a aranha, que para sua frustração está sempre fora do seu alcance, nas suas tentativas de libertar-se e atacar a aranha, cada vez parece mais presa, os viscosos fios aderem a seu corpo prendendo-a de várias formas.

A aranha deliciada com sua sorte, tenta, depois de reforçar a teia em volta de sua presa, tenta, através de suas longas pernas atingir a vespa e encontrar um local onde possa inocular seu veneno paralisante, se ela conseguir paralisar a vespa, será muito fácil envolvê-la com seus fios em um casulo de teia, e guardá-la para um banquete de vários dias.

A vespa no entanto, continua a lutar, desesperadamente, a ela não importa que esta cada vez mais presa, ela procura alternativas, bate as asas numa velocidade alucinante, tentando se desprender da teia e torce seu ferrão para ameaçar a aranha, ela não se entregará sem lutar, mesmo porque entregar-se é morrer, e ela tinha seus ovos para botar ainda, era o clamor da continuação da prole.

A aranha, senhora da situação, tenta avançar sobre sua presa, e atacá-la, mas ao fazer isso, choca-se com o corpo da vespa e libera uma de suas asas. Era a chance que a vespa esperava, com uma das asas livre, ela tinha uma chance, volveu gigantescas quantidades de ar, pelo menos para o tamanho de seu universo. A aranha assustada, recuou, tentando novamente reforçar a teia.

Mas era tarde, livrar a outra asa foi fácil para aquele díptero, e com as asas livres ela podia voar, mesmo estando ainda presa por todo o corpo. Ela tenta alçar o vôo esticando a teia ao máximo, forçando os pontos de ligação, quebrando os vítreos cordéis, esticando, esticando sempre, cada linha da teia.

A aranha desesperada corre de um lado a outro, vendo sua teia ser destruída pela força da vespa, em vão tenta refazer os nós e prender os seus pontos.

A vespa consegue a liberdade, num sopapo é lançada no ar, com o corpo ainda cheio de pedaços grudentos da teia, arrastando os filamentos pelo ar. A aranha agora esta com sua teia reduzida quase à metade e terá que trabalhar de novo por um dia inteiro para refazer sua armadilha, agora a construirá mais forte, mais pegajosa.

Subindo num vôo errático, a vespa agora sobe para o céu já tomado pela noite, virara de caçadora a presa, e estava exultante por ter escapado, acelerou em direção aos céus, seu domínio, pelo menos assim pensava...

Mal pôde ver a grande e escura sombra contra o céu, não sentiu nada mais que os dentes do morcego a esmagar seu corpo, e quando foi engolida já não sentia mais nada. O enorme morcego a engoliu, e partiu para outra de suas dezenas de vítimas, talvez ficasse surpreso por ter pego uma vespa ao invés de uma mariposa noturna, mas comida era comida, e lá se foi ele em busca de mais alimento no céu noturno, afinal a noite só começara.

A lagarta, bem, a lagarta alheia ao perigo q correu pouco antes, roía a folha e logo iniciaria a construção de sua crisálida para metamorfosear-se em uma borboleta multicolorida . E assim foi mais um dia em um jardim qualquer.

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