PALAVRAS
Claudio Alecrim Costa

Balancei meu copo de uísque e caminhei entre bocas, cigarros, perfumes, jóias, gravatas e copos em profusão. Uma festa com ilustres convidados onde eu era quase espanado como um inseto incômodo. Estava com Carla, uma bela jovem de família rica com quem fazia sexo como uma malabarista. Foi ela que me arrastou pela mão e me apresentou a um grupo de senhores de expressão austera que permaneceu em silêncio. Olharam-me de cima a baixo e retomaram a animada conversa sob uma densa nuvem soprada de seus charutos. Socorro! Foi o que disse mentalmente quando a diabinha me largou junto àquela roda. Enfiei a mão no bolso 34 vezes e cocei a nuca outras 15. Temi ser introduzido naquele assunto cuja extensão cobriria distâncias bíblicas. O senhor não concorda? Sai do meu torpor como se tivesse vindo ao mundo naquele instante - O senhor falou comigo? - Sim, meu jovem... O que você acha? Pensei rapidamente e mandei - É uma questão delicada... Essa frase se encaixa em qualquer situação e tem elegância, imaginei - Discordo! Protestou o outro que dava baforada como uma chaminé. Continuei... - É um ponto de vista... Outra frase que não me comprometia em nada. Apenas uma afirmação óbvia. - Isso é verdade...Temos que respeitar a integridade de opiniões. Retrucou um velho trêmulo. A coisa estava favorável até que me veio à segunda pergunta: - O senhor acha que chegamos a algum lugar desse jeito? - É difícil antecipar um diagnóstico. Bravo! Pensei comigo. Não existia um conjunto de palavras mais universal... - O senhor não tem uma opinião ainda assim? Dessa vez estava perdido. Pensei e me senti dentro de um caleidoscópio até expulsar novamente as palavras da minha boca como se antes estivesse sufocando com um pedaço de frango. - Minha opinião é de que devemos sempre acreditar independente de qualquer coisa. - Eu penso assim. Concordou comigo outro da roda. Estava temporariamente seguro. Olhei para os lados e nada de Carla. Onde estaria essa desumana criatura? - O senhor acredita? Perguntaram-me em coro... - Sou um otimista! - É um ingênuo! Retrucou o que parecia comandar o debate. - É um defeito. Acrescentei. Todos caíram numa sonora gargalhada. Aproveitei o momento e me retirei. Quando encontrei Carla estava solta e rindo sob um vestido que não empanava a beleza de seu corpo.- Como estava a conversa, meu amor? Enroscou-se suavemente em mim. - Agradável! - Do que falavam? - Generalidades... - Vocês homens... Tomei uma dose de uísque e olhei com altivez para a turba que enchia o salão. Bastava ordenar as palavras como num jogo de cartas. Uma mão pousou em minhas costas e para meu desagrado a roda sob densa fumaça me atacou novamente... - O senhor acredita mesmo? - Não totalmente... - Mas não disse que era um otimista? - Estou avaliando... Todos cochicharam entre si e voltaram-se para mim com expressão de satisfação.

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