CALA
Luciana Pareja Norbiato

Organograma compacto, eu tentando entrar em seu quarto de idéias, ele me fala, fala e não fala nada. Quanto mais fala, mais se esconde, esconde de mim sua ambigüidade. Se a palavra não cortasse ao meio, se o receio de ser não obrigasse à fala, se eu pudesse inventar todo um vocabulário que decodificasse a distância e pulsasse em letras aquilo que somos, tudo o quanto queremos, e nossos sentimentos. Mas é tudo tão exclusivo... Tão pessoal. Só posso dizer que sinto, muito. Não posso dizer o que sinto.

Lentamente, as letras se dissolvem em goma esparsa e entramos no gozo do não-falar, do ser ainda e para mais, e nunca nos entenderemos tanto quanto no momento em que se desinventa a fala. A palavra mais forte prescinde de letras e toma em golpes a energia vital, minha e sua, e somos tanto.

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