TÃO LINDO
Márcia Cardador

Abriu a janela e fechou os olhos. De repente, tudo parecia flutuar. Uma sensação de paz, muita paz. E as cores começaram a surgir sozinhas para depois se misturarem. Respirou fundo e aromas diversos o invadiram. Cheiros de frutas, cheiros de flores, cheiros de chuva. Para cada cheiro, a mistura de cores era diferente e já não se contentavam em ser apenas cores. Tomavam formas fluidas, quadrados virando círculos, amarelos virando azuis. 

Paisagens começaram a se formar e lembranças se juntaram a elas. Mas vinham sem hora certa e o cavalinho que brincara quando tinha quatro anos acabou do lado do livro de equações diferencias. Não sabe quando tempo ficou assim, nesse estado. Não queria abrir os olhos, não queria. Estava tudo tão lindo.

Abriu os olhos e não estava mais na janela, mas em seu quarto, sentado, de frente para a tela do computador. Não se lembrava de ter chegado ali. Não se lembrava de ter ligado o computador. A tela parecia brilhante demais, feia demais no branco-azul da sua configuração. Fechou os olhos, tudo parecia flutuar. As cores voltaram, os cheiros, as formas, as lembranças, tudo era tão lindo. Ouviu vozes ao longe, ouviu seu nome ser chamado, mas não queria abrir os olhos. 

Quando deu por si novamente, estava deitado, olhando para o teto branco. Branco, sem formas, sem cores, sem cheiros. Sorriu, porque sabia que não tinha importância. Bastava fechar os olhos. Continuou sorrindo quando a certeza veio devagar. Tudo era tão lindo. E muito mais.

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