SENTIDOS
Fabrícia Valeck

Eles vêm a galope, descompassados, desencontrados. Despejam-se intensamente dentro de nosso peito e nos dominam por completo. São eles, os sentimentos.

Desde o medo até a raiva, a angústia, a saudade e a dor... passando pela covardia, a saudade, o ciúme, o ódio, a aflição. Os sentimentos têm vida própria, chegam sem avisar e vão embora quando bem pretendem.

Todos eles são assim, inconstantes: a alegria, a satisfação, a saudade, o amor. A felicidade sublime e incondicional, a mágoa mais sofrida, o tédio da rotina, a impotência diante dos piores problemas da vida. Mas basta um simples mergulho dentro de uma pequena porção destas sensações para que as almas se encharquem com seus pesares, seus desânimos ou suas alegrias.

Deixar-se envolver por eles nunca é suficiente. Há que se sentí-los por completo, deixar com que eles se enraízem e façam parte de nossa própria história, para que um dia, na velhice, possamos relembrá-los e desfrutá-los por inteiro, e nos fazer inteiro novamente a partir deles.

Somente uma coisa todos eles têm em comum: os olhos fechados. Não se pode amar sem fechar os olhos e lembrar do gosto do último beijo e da dor da saudade.

Não se pode sentir raiva sem apertar com força os olhos fechados até tremer de tanto odiar.

É impossível estar alegre sem gargalhar a ponto de ficar cego de tanto rir.

Ninguém consegue ficar profundamente triste e chorar sem levar as mãos aos olhos para esconder o pranto.

A vida é feita de sentir; os sentimentos vêm e dão o primeiro passo, antes de todos os feitos do mundo. E os olhos fechados consistem na tão necessária pausa para reflexão.

O que seria de nós se não pudéssemos cerrar as nossas pálpebras e soluçar de amor ou de dor? O que seria de nossas vidas se não pudéssemos desfrutar dos olhos fechados por estas espaçadas frações de segundos?

Porque é assim, de olhos fechados, que sentimos mais profundamente todas as nuances do mundo. É assim que enxergamos melhor a nós mesmos, às nossas virtudes e aos nossos defeitos, a fim de deixar que as avalanches de sentimento possam, cada vez mais, fazer com que nossas vidas valham a pena.

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