MEU CÚMPLICE
Lena Chagas

Estou sempre à procura do silêncio. Não que seja uma obsessão (ainda!) ou qualquer outra mania. Apenas gosto do silêncio. Mas de alguns silêncios. 

Gosto do silêncio da noite, do silêncio dos vizinhos, do silêncio dos carros, do silêncio das buzinas, do silêncio das britadeiras, do silêncio dos gritos, do silêncio dos latidos, do silêncio do bate-estaca, do silêncio das armas de fogo, do silêncio do meu corpo. 

Alexis Carrel disse que 'o corpo saudável vive silenciosamente. Do seu trabalho nada vemos e nada sentimos.' Não é à toa que pensamos mais sobre nosso estado físico quando não estamos em perfeita saúde. 

Mas deixando as citações de lado, há silêncios que me incomodam. Não gosto daquele silêncio que se instala dentro do elevador, tenha quantas pessoas tiver, ele sempre está junto! Também não gosto do silêncio dos cemitérios, mas felizmente, raramente me deparo com ele. 

Só falei desse silêncio porque lembrei de um amigo que sempre vai a um cemitério, quando quer refletir ou quando está deprimido. Diz que sai de lá revigorado, novinho em folha! Vai entender! 

Mas o silêncio que mais me incomoda é o silêncio de uma pessoa especial. Esse sim, me deixa doente, pois meu estômago fica embrulhado e escuto meu coração batendo pelas paredes. Não sei lidar com isso. 

Mas a melhor parte do silêncio é a sua cumplicidade. Acredito que ele é o cúmplice mais fiel dos nossos pensamentos, da nossa memória e das nossas lembranças. A tudo assiste, de tudo compartilha, mas sempre calado. E assim permanece, a menos que seja quebrado. 

Envolvente e acolhedor, é nele que busco refúgio para os meus pensamentos mais ousados, é nele que mergulho com minhas tristezas ou mágoas e é a ele que procuro quando quero ler ou escrever. 

Como se tudo isso não bastasse para justificar porque gosto tanto do silêncio, tem mais um motivo: é só a ele que confio os meus segredos. Sei que se eu não falar, muito menos ele! 

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