TEMOS VAGAS
Márcio Benjamin Costa Ribeiro

Encostou a cabeça de leve no vidro do ônibus que balançava. O relógio grande da praça marcava trinta e oito graus e ele estava muito cansado. Cansado demais. Puxou a tampa da bic vermelha com os dentes e a colocou no fundo da caneta. Apoiou com dificuldade os classificados no joelho e continuou a procurar. Passou os olhos pelas colunas mais uma vez e ainda não encontrou nada. Os anúncios pediam experiência, mas também limitavam a idade em até vinte e cinco anos. Na sua cabeça, experiência e vinte e cinco anos de idade eram coisas opostas. Porém, talvez ele estivesse velho demais para opinar sobre isso. Limpou o suor da testa e manteve a sua busca. Subitamente parou o olhar sobre um anúncio disposto no canto esquerdo do jornal. "Temos vagas". Procurou alguma limitação. Idade. Sexo. Cor. Nada. Procurou o endereço. Estava bem próximo. Levantou-se rapidamente e pediu parada. Passou com dificuldade pelos outros passageiros e alcançou a porta de saída. O vento quente bateu em seu rosto e ele sentiu-se esperançoso. Atravessou a praça muito rapidamente e procurou o número do prédio. Encontrou um prédio antigo. Meio escondido. Passou muitas vezes por esta praça, mas nunca tinha notado. Procurou um automóvel por perto e arrumou-se pelo seu reflexo. Tentou não notar a cara de enfado. Entrou receosamente no prédio. As marcas de infiltração serpenteavam pela parede com a pintura gasta. Tirou o jornal dobrado de dentro do bolso e procurou pelo número da sala. Percorreu um corredor escuro e chegou até ela. Teve muita sorte de encontrar o local, pois não havia ninguém para ajudá-lo. Segurou na maçaneta da porta, respirou fundo e abriu. Ao entrar, havia uma pessoa sentada no bureau de madeira. "Estávamos esperando por você" — disse. Ele entrou e fechou a porta atrás de si. Seu grito ecoou pelo prédio vazio.

 

O papel voou e atingiu o rapaz em cheio no rosto. Ele pegou e notou que era um jornal. A coluna dos classificados. Abriu por curiosidade e viu um anúncio destacado em vermelho. "Temos vagas" — dizia. Ele procurou alguma limitação e não encontrou. Sorriu. Talvez aquela fosse a chance de sua vida. 

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