MONÓLOGO NO BAR
Míriam Salles

Aposto que cada um dos anjos escritores escreveu pelo menos uns dois textos desta vez. Sabe por que? Porque vivemos à procura. Procuram-se pessoas para se gostar. Procuram-se pessoas que gostem de nós. Procura-se trabalho, emprego, empregado. Procura-se filhos na escola. Procura-se a luz no fim do túnel quando a vida escurece de repente. Procura-se a lua no céu, o sol no poente e no nascente. Procura-se uma vida mais decente, e amigos condizentes. Procura-se um cachorro que faça companhia. Procura-se o tempo todo, a vida toda. 

Veja-me, por exemplo. Vivo procurando seus olhos e quando os encontro, procuro suas mãos. Procuro o tempo todo palavras que te toquem e te incomodem, provocando alguma reação. Procuro sempre formas de alegrar meus amigos. Tá certo que, de vez em quando, piso na bola, mas eles que procurem me entender, afinal amigos são para essas coisas. Eles também vivem à procura de piadinhas com graça com as quais entopem nossas caixas postais. 

No fim das contas, vivemos todos à procura, sempre. Procuramos alegrias onde não estão. Procuramos tristezas de vez em quando, quando percebemos que não damos conta de lidar com a felicidade. 

Procuramos sem parar e quando eventualmente encontramos, damos um jeito de achar um novo objeto de desejo, pois que sem uma meta por alcançar ninguém sai do lugar. É isso. Que você acha, agora, da gente procurar um dinheirinho para pagar a conta?

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