BURRICE É UMA DOENÇA GENÉTICA
Alberto Carmo

Deu no Estadão!

Isso mesmo, o título completo é "Burrice é uma doença genética, afirma cientista." Atenção! Vamos brincar de adivinhar? Pois bem, quem disse isso foi um tal de mister James Watson, que é... vamos lá, você consegue adivinhar, que é...um... cientista... vamos falar juntos: INGLÊS! Eureka! Você acertou na mosca! 

Exatamente! Ele é daquela turma que vive descobrindo que pimenta malagueta cura hemorróidas, e outras experiências de extremo interesse para a humanidade. Os incomparáveis, insofismáveis, renomados, notáveis e hilariantes cientistas ingleses, que sempre nos fornecem manchetes adoráveis. A notícia saiu hoje, sábado, 1 de março de 2003, no caderno Geral do Estadão, coluna Ciência.

A gente ri, mas esses malucos são perigosos, costumam galgar cargos importantes por aí. Mais abaixo, ele diz que defende o uso da genética na melhoria da raça humana, e exames pré-natais para PREVENIR O NASCIMENTO DE CRIANÇAS BURRAS! 

Imagine a cena: o obstetra puxa o bebê pela garganta, bota só a cabeça do bichinho para fora, chama o diretor de RH do hospital, um especialista em ISO9000, um tradutor de choro de criancinhas, que colocam dois delicados fones de ouvido nas orelhas do recém-nascido, e disparam a sentença mortal: — Diz aí, moleque, quem são os maiores cientistas do mundo? Se o pimpolho responder que foi o Einstein, ou mesmo que é a mamãe, surge um decapitador profissional — aquele da última edição que a gente comentou — e vapt! — um burro a menos no mundo. 

Se a senhora, ou senhorita, estiver aí dando umas boas risadas, espere e ouça a continuação das idéias do "renomado professor, grande impulsor do Projeto Genoma Humano". Vamos ouvi-lo em suas próprias palavras, sem dublagem: "As pessoas dizem que seria terrível a possibilidade de conseguir que todas as meninas fossem bonitas. Eu acho que seria fantástico."

E agora, como é que fica? Só tem vez mulher bonita. Alguém deu aquela passada de mão no pescoço, como os vilões da Bastilha diante da guilhotina? Ou um "glup!" básico?

Pois é, o doidivanas declarou isso. Eu sei que o Vinícius deve ter piscado a cavidade ocular esquerda ao ouvir a notícia. Mas o Vina era poeta e brincalhão, e poeta vê a beleza muito além das carnes que também a terra há de comer. Onde olhar, o poeta verá beleza. Qualquer poeta, mesmo de segunda-mão, sabe que a beleza da mulher está em simplesmente ser mulher. Toda mulher é especial, lapidada a dedo pelo pai-de-todos. Já os homens, ele relega ao fura-bolo a tarefa de puxá-los da placenta pelos pés, dar-lhes um tapa na bunda e gritar à enfermeira: — Pega aí, lá vai mais um! Por isso aparece tanto aloprado como esse James, que não é bom de nada. 

Mas, vamos supor que o sacripanta tenha razão. Vamos usar os argumentos dele de uma forma que ele chamaria de "inteligente". Bem, não é difícil a gente chegar à conclusão de que, se a estapafúrdia idéia do senhor James Watson estivesse em vigor lá na época em que ele despontou pela perereca da mamãezinha dele, que Deus a tenha, teria sido muito bem aplicada, e o mundo teria um burro a menos. E pelos dois motivos, pois além de burro, esse "renomado professor" deve ser uma pessoa muito feia.

— Elementar, meu caro Watson! 

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