AMAVA-O
Francisco Pascoal Pinto de Magalhães

Amava-o. Dissessem o que quisesse. E o amor, dizem, é cego como é cega a justiça que tarda mais não falha; mas que com Ela falhava .

Os adultos foram injustos com Ela que o amava. E foram além tecendo redes de intriga, conjecturas depreciativas e racistas. Denegriram a imagem daquele homem negro sem direito a cota no coração d´Ela. Amava-o apesar de tudo e de todos. 

Sabia das proibições: não pode isso, não faça aquilo, censura, tabus e atos institucionais ... Santa hipocrisia. 

Mas quem manda no coração das pessoas? Coração, ouvira dizer, era Terra de Ninguém. Quem pode impedi-lo de fazer a sua escolha por mais esdrúxula que seja?

Para os padrões preestabelecidos o seu escolhido era um homem feio. E velho. E pobre. E Ela era apenas uma piveta apaixonada.

Haveriam de dissuadi-la com promessas de presentes e viagens; ameaçariam-na com internação em uma clinica psiquiátrica ou deportação. A mãe convalescente lançaria mão de artifícios de chantagem emocional. E nada disso funcionaria.

Só que para não fazê-la sofrer o escolhido partiria e deixaria seu coração mais partido ainda. E Ela o descobriria covarde por isso. E Ela se sentiria também covarde por não lutar pelo seu amor. No fim de cada dia remoeria lembranças e imaginaria o que poderia ter sido ao lado daquele homem feio que lhe parecera tão bonito; a quem amara desprezando o que os seus olhos e os olhos das pessoas viam.

Ele era dono de qualidades interiores, da alma, que só o coração - mesmo de uma piveta ingênua - percebem. 

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