MELHOR IMPOSSÍVEL
Nilda Brandão

- Agora feche os olhos!

Ela olha desconfiada para ele e ele está sorrindo. Só pode estar aprontando alguma. Pensa ela enquanto fecha os olhos. 

- Posso abrir agora? Pergunta ela, dois segundos depois que fechou os olhos.

- Espera, apressada! Só mais um minuto. 

Ela sorri e espera, era seu aniversário, e seu filho, ao que parecia, havia lhe preparado alguma surpresa. Ela podia ouvi-lo vasculhando, mexendo e arrumando alguma coisa, e a vontade de abrir os olhos e bisbilhotar era enorme. A todo momento ela ameaçava abrir os olhos e ele ria e pedia mais um pouco de paciência. 

Enquanto esperava, ela ficou pensando nos acontecimentos do último ano. Exatamente um ano antes. Seu último aniversário. Lembrou de toda a dor e angústia que sentira ao descobrir que seu marido estava nos braços de outra no dia de seu aniversário. Sem dúvida um presente e tanto! Pensou ela. Lembrou de como o ano havia sido difícil e de quanto sofreu nos primeiros tempos. Todos os medos por encarar o mundo sozinha pela primeira vez. As brigas judiciais, os insultos, o ódio, a volta por cima. E agora estavam lá, ela e seu filho, e dessa vez, ela estava vivendo um aniversário tranqüilo. Sentia que tinha muito o que comemorar. Ia comemorar sua independência, liberdade, harmonia e paz. Ia comemorar a volta de sua sanidade e serenidade. O mundo finalmente era um bom lugar de se viver e, pela primeira vez em meses, ela realmente se sentia viva e feliz. 

- Pronto! Pode abrir os olhos.

Lentamente ela abre os olhos, imaginando o que iria ver. Nas paredes, vários cartazes coloridos de feliz aniversário, balões fitas e bordados. Na mesa, enfeitado de chocolate, um bolo todo torto, com velas enormes e brigadeiro. E do lado de tudo isso, meu filho com um sorriso gigante e os olhos transbordando orgulho pelo trabalho que havia feito. Os olhos dela encheram de lágrimas. Abraçou o filho e agradeceu a linda mesa decorada. Sentaram juntos e comeram bolo. A vida não poderia ser mais perfeita. Poderia?

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