SAUDADES
Marco Brito

Pela janela eu vejo um menino a correr pela areia da praia. Não tem mais que três,talvez quatro anos. Corre atrás de uma bola de borracha branca com pequenas estrelas pintadas de azul. A imagem não é muito nítida. Parece estar distorcida por pingos de chuva que escorrem pelos vidros da janela.... Ou talvez sejam lágrimas a correr-me pelos olhos. Não dizem que os olhos são as janelas da alma?

De repente o menino estanca bruscamente e agacha-se. Quando levanta já é outro. Vem acompanhado de uma mocinha bonita de longos cabelos negros soltos às costas. Dançam de rostos colados ao som de uma música romântica e nem reparam as pessoas ao seu redor. Ela por encantamento, ele por simples vergonha de adolescente. A música termina e ambos saem de braços dados em direção ao um imenso jardim. Andam juntos por entre alamedas de jasmins-manga. Ela o guia até um banco no final do caminho. Sentam-se frente a frente e eis que a mocinha não é mais a dos cabelos negros e sim uma linda garota de pele dourada como os primeiros raios de sol da manhã....

Naquela clara manhã de verão, enquanto os raios de sol esquentavam as águas do mar, eu via um rapaz sentado sobre uma prancha a esperar as ondas que ainda adormecidas o faria galopá-las como a um garanhão selvagem....

Vejo um cavaleiro cavalgando um animal jovem e voluntarioso. Tão voluntarioso quanto o próprio ginete. Andam por entre trilhas rochosas e sobem até o alto duma serra de onde avistam o mundo a seus pés. Seus olhos descortinam um horizonte claro e longínquo. Do pico mais alto da serra o cavaleiro pica esporas e desce a colina em direção à cidade....

Na cidade grande o rapaz estuda e se forma, se apaixona e se casa. Casando tem filhos. 

Pelas janelas, embaciadas por lágrimas ou por gotas da chuva que cai, fico vendo aquelas crianças correndo pela areia da praia. O menino, que não deve ter mais que cinco ou seis anos, agacha-se e estende sua mão para a garotinha que está a seu lado. Os dois andam juntos de braços dados e dirigem-se em direção ao homem que lhes observa.

Ao chegarem próximo ao homem já não são os mesmos. São dois jovens que, chegando sorridentes, lhes chama:

- "Pai!"

Paro de ver aquelas imagens e, entre as janelas embaçadas da alma, vejo meus filhos sorrirem pra mim.

Todas essas imagens estão retidas na minha mente até que um pequeno sopro de ar fresco vem matar minha saudade.

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