UM DEUS GREGO CAIU NO SEU QUINTAL
Adriana Vieira Bastos

Do nada se aproximou, um copo de água pediu e um sorriso divino para ela abriu. Estava de passagem. Perguntou-lhe se havia algum serviço que pudesse fazer, para continuar o seu caminho. Necessitava de pouco, era sozinho. Fascinada, o alojou. Por que não ousar?, pensou. Algo especial com ele previa experimentar, mas precisava, para isso, o preconceito abandonar. 

Não sabia se ele era simples ou se simplesmente era! Pouco falava, mas este pouco a encantava. E o olhar? Era de perturbar. Ora penetrante a ponto de ferir, ora doce como um mel puro descendo pela garganta, até atingir a alma. Só bastava ter calma.

Dia após dia, via aquele Deus Grego se transformar num homem. No seu homem! Ao vê-lo finalmente dentro de sua casa, não escondeu que há muito seu corpo ansiava por lhe abrigar. Ele tinha uma fome insaciável, mas era afável. Calmamente a despia enquanto o desejo dentro dela crescia. Nada exigia, não a assustava e ela, sem entender o seu despudor, para ele se revelava. Descobrira finalmente a paixão. Estava disposta a viver este amor até a exaustão.

Sabia ser um sonho breve. Ele era livre, dono de seu próprio destino. Um dia ele partiria, mas sabia que dentro de si ficaria. 

E assim aconteceu! Era madrugada. Olhou-a profundamente e um arrepio dentro dela calou. Havia chegado a hora! Às 3:00 horas o relógio resolvera parar, como se quisesse aquele momento eternizar.

Mesmo triste, preferiu este desfecho a uma continuidade vazia, como tantas que estava acostumada a presenciar. Continuidades que não levam a lugar nenhum. Pelo menos ele não seria na sua vida apenas mais um. 

Também sabia que nada iria fazê-lo recuar; resolveu, então, as lágrimas disfarçar. Não queria que levasse o peso da dor que tomara conta do seu coração. O amor não pode virar obrigação. 

Fora tão intenso o que vivera, que precisava deixá-lo, como um pássaro, voar, se quisesse, um dia, vê-lo, novamente no seu quintal voltar e na sua janela pousar.

O relógio nunca mais saiu do lugar. No criado mudo, mudo ficou até que, anos depois, numa inesperada madrugada, para a vida despertou. Ao escutar 3:00 horas, um susto levou. "- Que coincidência!";, pensou. Só que o amor não admite coincidências, só precisa de paciência. 

Ao abrir a porta, sorrindo ele estava. Para a sua vida voltava. Cansado, no seu colo se aninhou e nada falou. E nem precisava falar. O que tinham vivenciado até este reencontro, havia se apagado. De repente, e com o mesmo ardor, do seu corpo se apossou e, para ele, ela se entregou, pois sabia o quanto por ele esperou. 

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