JUNTOS, NUM PARQUE
Anna Carolina N. Fagundes

“What if we still ride on, we two 
With life for ever old yet new, 
Changed not in kind but in degree, 
The instant made eternity – 
And heaven just prove that I and she 
Ride, ride together, for ever ride?”
(Robert Browning, “The Last Ride Together”)

- Olha! Cata-ventos!

Estávamos no parque, no fim de tarde. O que a gente tinha ido fazer lá? Não me lembro. Lembro que estávamos acompanhados de dois amigos, era sábado e o parque estava lotado. Gente andando de bicicleta, crianças com skates e patins, casais como nós andando de mãos dadas, pais de fim de semana brincando com os filhos, gente andando em bando. Um zoológico, como dizia um dos amigos que nos acompanhava.

E você viu o homem vendendo bolas, brinquedos, e cata-ventos. Do que será que você lembrou, ao ver aqueles brinquedos girando com o vento frio do sábado? Eu me lembrei de tempos mais ensolarados, outras pessoas, outros parques – quando eu era criança e não tinha nada a perder. Engraçado lembrar assim da minha infância. A única coisa que eu podia perder era a vida, mas naquele tempo eu achava que morrer era apenas um sonho.

O diabo é que eu não cresci nesse aspecto... Continuo achando que a morte é apenas o dia em que vamos dormir e despertaremos do outro lado. Quem não garante que a vida que a gente leva agora não é um sonho, do qual um dia vai se acordar para uma outra vida, e assim por diante? É mais fácil pensar assim do que pensar em um paraíso ou um inferno do qual não se sai nunca, condenado ou premiado para sempre por ações feitas numa vida da qual não se tem direito a ensaio...

- Gosta deles? – eu perguntei.

- Gosto. Me trazem boas lembranças.

- Para mim também.

E ficamos parados olhando os cata-ventos, cada um pensando em alguma outra coisa – uma memória particular do tempo em que não conhecíamos um ao outro. Um pai apareceu meio do nada e comprou um cata-vento para uma garota de cabelo escuro, que estava perto da gente. Eu me lembro de como você apertou a minha mão vendo aquela cena, esperando – como eu esperava – que um dia fosse você o homem comprando um brinquedo para a filha que brincava no parque. 

E é assim que eu lembro de você – caminhando lado a lado num parque no fim de tarde de um sábado, observando cata-ventos e pensando em como seria bom andar ao seu lado por toda uma vida, e quem sabe outras também.

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