DESENCONTRO
José Leal

Um esbarrão. O rapaz perdeu de vista o rosto do seu amor eterno, que se afastava, já longe naquele ônibus. Parado na calçada, boquiaberto, não ouve as desculpas do atrapalhado senhor que junta as folhas que derrubou. Os olhos azuis vão junto com ônibus dobrando a esquina, e acaba-se o curto momento em que a vida do rapaz revestira-se de cores novas, vivas, brilhantes...

- Mil, perdões, moço! Olhe, aqui estão suas coisas - a voz senil do velho rematou-o de volta a realidade cinza, essa realidade carrancuda que vive de esmigalhar sonhos e sobrevive do verter de lágrimas de frustração.

Fez uma face de não sei quê, e teve impulso de atirar-lhe a pasta e tudo mais na cara e esganar-lhe, esse velho criminoso assassino de corações.

- Obrigado - respondeu com voz inaudível.

A despeito do olhar furioso e da frustração que borbulhava dentro do jovem, que não lhes percebeu, o senhor o puxou pelo braço:

- Venha, é meio-dia, lhe pago um café para perdoar meu desajeito - falou simpaticamente.

"Ah! um café pelo meu amor! Vá para os quintos, velhaco" pensou. Respondeu rispidamente:

- Estou com pressa - e virando-se para seguir o seu caminho, arrematou um "obrigado" irônico e começou a andar apressado. Tão apressado que nem notou os olhos do velho. Os mesmos, mesmíssimos olhos azuis.

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